sábado, 17 de novembro de 2007

Fala do homem nascido

Venho da terra assombrada, do ventre da minha mãe.
Não pretendo roubar nada, nem fazer mal a ninguém.
Só quero o que me é devido, por me trazerem aqui.
Que eu nem sequer fui ouvido, no acto de que nasci.

Trago boca para comer, e olhos para desejar.
Tenho pressa de viver, que a vida é água a correr.
Venho do fundo do tempo; não tenho tempo a perder.

Minha barca aparelhada, solta o pano rumo ao norte.
Meu desejo é passaporte, para a fronteira fechada.
Não há ventos que não prestam, nem marés que não convenham.
Nem forças que me molestem, correntes que me detenham.
Quero eu e a natureza, que a natureza sou eu.
E as forças da natureza, nunca ninguém as venceu.

Com licença! Com licença!
Que a barca se fez ao mar.
Não há poder que me vença.
Mesmo morto hei-de passar.
Com licença! Com licença!
Com rumo à estrela polar.

Poema de António Gedeão

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