sexta-feira, 12 de junho de 2009

Francisco da Silva Brás


Pois é, a vida resume-se mesmo a isto poderá dizer-se; lutar, lutar por ela e... morrer!

Mas acho que não é assim, não pode ser assim!

Francisco Brás morreu hoje, outros vão por certo lembrar carnavais e teatros idos. Eu não!

Vou isso sim lembrar a sua coragem em perseguir sempre os seus sonhos, por mais fortes ou modestos que fossem, tinha sempre um querer lutar por aquilo que acreditava estar ao seu alcance, numa clarividência peculiar que o tornava obsessivo, e onde vincava junto das pessoas que prezava as suas opiniões fortes e decididas.

Agradeço aqui o que fez por alguns sonhos meus!


sábado, 6 de junho de 2009

PAUL ÉLUARD



Em toda a carne que tive
Na fronte dos meus amigos
Em cada mão que se estende
Escrevo o teu nome
Na vidraça das surpresas
Nos lábios que estão atentos
Muito acima do silêncio
Escrevo o teu nome
Nos meus refúgios desfeitos
Nos meus faróis aluídos
Nas paredes do meu tédio
Escrevo o teu nome
Na ausência sem desejo
Na solidão despojada
Na escadaria da morte
Escrevo o teu nome
Sobre a saúde refeita
Sobre o perigo dissipado
Sobre a esperança esquecida
Escrevo o teu nome
E pelo poder da palavra
Recomeço a minha vida
Nasci para te conhecer
Nasci para te nomear
Liberdade


LIBERDADE -POEMA DE PAUL ÉLUARD
window blues by appleplusskeleton

Liberdade "By FallenAngel24 "


Livre como um pássaro
A voar na floresta
É assim a liberdade
Que ainda nos resta

Estar preso não faz sentido
Como um medo que se sente
Tal como um pedaço de nós que está ferido
A ferver em água quente

Não existe equilíbrio
Nesta balança pesada
Sê livre com um rio
Que corre na madrugada

Ser livre é ser feliz
Estar preso é ser frustrado
Como a canção que diz
Eu quero ser amado.

By FallenAngel24

sexta-feira, 5 de junho de 2009

Descobertas


Mais vale um tempestuosa liberdade,
que uma tranquila escravidão!

O pior uso que se pode fazer da liberdade
é abdicar dela!

A liberdade é o maior dos bens
e o fundamento de todos os outros!

quinta-feira, 4 de junho de 2009

Miguel Torga, in 'Diário XII'


Liberdade
— Liberdade, que estais no céu...

Rezava o padre-nosso que sabia,
A pedir-te, humildemente,
O pio de cada dia.
Mas a tua bondade omnipotente
Nem me ouvia.

— Liberdade, que estais na terra...
E a minha voz crescia
De emoção.
Mas um silêncio triste sepultava
A fé que ressumava
Da oração.

Até que um dia, corajosamente,
Olhei noutro sentido, e pude, deslumbrado,
Saborear, enfim,
O pão da minha fome.
— Liberdade, que estais em mim,
Santificado seja o vosso nome.


Miguel Torga

quarta-feira, 3 de junho de 2009

«Trova do Vento que Passa»

Pergunto ao vento que passa
notícias do meu país
e o vento cala a desgraça
o vento nada me diz.
Pergunto aos rios que levam
tanto sonho à flor das águas
e os rios não me sossegam
levam sonhos deixam mágoas.

Levam sonhos deixam mágoas
ai rios do meu país
minha pátria à flor das águas
para onde vais? Ninguém diz.

Se o verde trevo desfolhas
pede notícias e diz
a o trevo de quatro folhas
que morro por meu país.

Pergunto à gente que passa
por que vai de olhos no chão.
Silêncio -- é tudo o que tem
quem vive na servidão.

Vi florir os verdes ramos
direitos e ao céu voltados.
E a quem gosta de ter amos
vi sempre os ombros curvados.

E o vento não me diz nada
ninguém diz nada de novo.
Vi minha pátria pregada
nos braços em cruz do povo.

Vi minha pátria na margem
dos rios que vão pró mar
como quem ama a viagem
mas tem sempre de ficar.

Vi navios a partir
(minha pátria à flor das águas)
vi minha pátria florir
(verdes folhas verdes mágoas).

Há quem te queira ignorada
e fale pátria em teu nome.
Eu vi-te crucificada
nos braços negros da fome.

E o vento não me diz nada
só o silêncio persiste.
Vi minha pátria parada
à beira de um rio triste.

Ninguém diz nada de novo
se notícias vou pedindo
nas mãos vazias do povo
vi minha pátria florindo.

E a noite cresce por dentro
dos homens do meu país.
Peço notícias ao vento
e o vento nada me diz.

Mas há sempre uma candeia
dentro da própria desgraça
há sempre alguém que semeia
canções no vento que passa.

Mesmo na noite mais triste
em tempo de servidão
há sempre alguém que resiste
há sempre alguém que diz não.

Manuel Alegre

terça-feira, 2 de junho de 2009

Nada é impossível de mudar


Desconfiai do mais trivial,
na aparência singelo.
E examinai, sobretudo,
o que parece habitual.
Suplicamos expressamente:
não aceiteis o que é de hábito
como coisa natural,
pois em tempo de desordem sangrenta,
de confusão organizada,
de arbitrariedade consciente,
de humanidade desumanizada,
nada deve parecer natural
nada deve parecer impossível de mudar.

Bertol Brecht

segunda-feira, 1 de junho de 2009

...e aspiro unicamente à liberdade


Evolução

Fui rocha em tempo e fui no mundo antigo
tronco ou ramo na incógnita floresta...
Onda, espumei, quebrando-me na aresta
Do granito, antiquíssimo inimigo...

Rugi, fera talvez, buscando abrigo
Na caverna que ensombra urze e giesta;
O, monstro primitivo, ergui a testa
No limoso paúl, glauco pascigo...

Hoje sou homem, e na sombra enorme
Vejo, a meus pés, a escada multiforme,
Que desce, em espirais, da imensidade...

Interrogo o infinito e às vezes choro...
Mas estendendo as mãos no vácuo, adoro
E aspiro unicamente à liberdade.

1882, Antero de Quental in "Sonetos".Manuscrito original.