quarta-feira, 28 de julho de 2010

A engrenagem

PRELO

o prelo pede a chapa
a chapa a tinta
a tinta o papel
o papel a mão
a mão a tiragem
a tiragem a chapa
a chapa o original
o original o tempo
o tempo a leitura
a leitura o entendimento
o entendimento a engrenagem
do tempo no prelo.


Regis Camargo

terça-feira, 27 de julho de 2010

Assim não vamos lá.



Assisti ontem, já ao cair do dia quente como um raio, ao despertar de velhas coisas vividas.
Sorri para dentro com o pensamento a querer ser mais forte do que realmente é !
Mas a tarefa mostrou-se difícil, pois a cada palavra do orador, vinha-me sempre à cabeça, a máxima do meu amigo Falcão Fonseca, só sabe ouvir poesia, quem poesia tem dentro de si...
De facto é assim. Pode-se querer organizar as coisas que são comuns, podemos dar o nosso melhor, pode-se manifestar abertura total e princípios de ética à muito esquecidos pelos mandadores... mas nada !
...só sabe ouvir poesia, quem poesia tem dentro de si!
Assim não vamos lá.

segunda-feira, 26 de julho de 2010

As máquinas e o amor aos livros


“A máquina não é senão uma nova ferramenta inventada pelo homem, que a maneja como quer.”
Rubens Borba de Moraes


Hoje, os incunábulos -primeiras obras impressas a partir da invenção da tipografia, por volta de 1445, até o ano de 1550- , obras de indiscutível raridade, são alvo de desejo de qualquer amante de livros. Porém, os primeiros impressos foram renegados por contemporâneos à sua origem.

Muitos bibliófilos que assistiram o nascimento da tipografia viram com desconfiança a impressão. Consideravam a máquina algo “vulgar, imperfeita e menos nobre que a mão do homem” (MORAES, 2005, p.197). Tal preconceito pode ser comparado à crítica mais recente em relação à produção em massa de livros. Hoje, não são mais os incunábulos alvo de descrédito, pelo contrário, o que existe são “bibliófilos que desprezam os livros modernos, impressos mecanicamente aos milhares. Para esses amadores, só tem valor artístico o livro impresso à mão e tirado a poucos exemplares” (Idem, ibidem, p.196).

Tais receios e desconfianças podem ser analisados à luz da célebre frase de Padre Claude Frollo no romance de Victor Hugo[1]: Ceci tuera cela. Isto matará aquilo, foi o que disse a personagem no século XV, após a invenção da tipografia, indicando, como analisa Humberto Eco, que “o livro vai matar a catedral, o alfabeto matar as imagens e incentivar a informação supérflua” (ECO, 2003, p.3). Talvez seja esse medo do novo, essa sensação de ameaça ao antigo e tradicional o que motivou e motiva tais preconceitos.

Porém, apesar dessas críticas que circulavam os incunábulos e que podem ser vistas como influência no caráter longo e complexo da transição do manuscrito ao impresso (afinal, até o século XVI não era incomum a feitura de manuscritos), há sinais que indicam que a bibliofilia não rejeitou de todo a essência artística da tipografia. A arte tipográfica foi, inclusive, vista como uma arte hermética, para iniciados, que deveriam prometer segredo sob juramento.

É digno de nota também o primeiro incunábulo sobre bibliofilia, Philobiblon,de Ricardo de Bury, impresso em 1473. Foi elaborado ainda em forma de pergaminho, manuscrito em 1345, mesmo ano da morte de seu autor, beneditino inglês apaixonado por livros que fez questão de deixar registrada a maneira como deveriam dispor de sua notável biblioteca após sua morte. Leitura fundamental aos bibliófilos, trata de cuidados essenciais a serem dispensados aos livros, incluindo como estimá-los e até mesmo como compartilhá-los com estudantes. Sua obra está hoje também disponível em versão bilíngüe (latim e português) Philobiblon ou o amigo do livro, pela Ateliê Editorial, com tradução e notas de Marcelo Cid.

Percebe-se que não foi pacífica a aceitação da tipografia pela bibliofilia, assim como ainda hoje não é unânime a idéia de que “industrializar não é enfeiar” (MORAES, 2005, p.196).

Por Clara Ramthum

quinta-feira, 15 de julho de 2010

Pedras no caminho?



.
"Posso ter defeitos, viver ansioso e ficar irritado algumas vezes, mas não esqueço de que minha vida é a maior empresa do mundo. E que posso evitar que ela vá à falência.

Ser feliz é reconhecer que vale a pena viver, apesar de todos os desafios, incompreenções e períodos de crise.

Ser feliz é deixar de ser vítima dos problemas e se tornar um autor da própria história.

É atravessar desertos fora de si, mas ser capaz de encontrar um oásis no recôndito da sua alma.

É agradecer a Deus a cada manhã pelo milagre da vida.
Ser feliz é não ter medo dos próprios sentimentos.
É saber falar de si mesmo.
É ter coragem para ouvir um “não“.
É ter segurança para receber uma crítica, mesmo que injusta.

Pedras no caminho?
Guardo todas, um dia vou construir um castelo.”

Fernando António Nogueira Pessoa (1888-1935, Lisboa)

domingo, 4 de julho de 2010

Balada para Moçambique

Mãe
Maningue chuva
Já não sei chorar
... Ver mais
Filho
Não é nada
São lágrimas
Que sobraram do sonho

Tio
Maningue vento
Já não sei voar

Filho
Não é nada
São estrelas
Que sobraram do sonho

Maningue frio mãe
Já não sei dormir

Não é nada filho
Dorme aos pedaços
Agasalha-te no sonho

Amanhã filho
Maningue chuva de pão
E os machimbombos serão navios
Carregadinhos de peixe

E as minas mãe

Serão maningue no céu

Dorme filhinho


(Nota: maningue = muito; machimbombos=autocarro, ônibus)



António Barbosa Topa