segunda-feira, 22 de setembro de 2008

Queixa das Almas Jovens Censuradas

Dão-nos um lírio e um canivete
E uma alma para ir à escola
Mais um letreiro que promete
Raízes, hastes e corola

Dão-nos um mapa imaginário
Que tem a forma de uma cidade
Mais um relógio e um calendário
Onde não vem a nossa idade

Dão-nos a honra de manequim
Para dar corda à nossa ausência.
Dão-nos um prémio de ser assim
Sem pecado e sem inocência

Dão-nos um barco e um chapéu
Para tirarmos o retrato
Dão-nos bilhetes para o céu
Levado à cena num teatro

Penteiam-nos os crâneos ermos
Com as cabeleiras das avós
Para jamais nos parecermos
Connosco quando estamos sós

Dão-nos um bolo que é a história
Da nossa historia sem enredo
E não nos soa na memória
Outra palavra que o medo

Temos fantasmas tão educados
Que adormecemos no seu ombro
Somos vazios despovoados
De personagens de assombro

Dão-nos a capa do evangelho
E um pacote de tabaco
Dão-nos um pente e um espelho
Pra pentearmos um macaco

Dão-nos um cravo preso à cabeça
E uma cabeça presa à cintura
Para que o corpo não pareça
A forma da alma que o procura

Dão-nos um esquife feito de ferro
Com embutidos de diamante
Para organizar já o enterro
Do nosso corpo mais adiante

Dão-nos um nome e um jornal
Um avião e um violino
Mas não nos dão o animal
Que espeta os cornos no destino

Dão-nos marujos de papelão
Com carimbo no passaporte
Por isso a nossa dimensão
Não é a vida, nem é a morte

Composição: Natália Correia

quarta-feira, 17 de setembro de 2008

Cambalache


Cambalache
Que el mundo fue y será una porquería,
ya lo sé;
en el quinientos seisy en el dos mil también;
que siempre ha habido chorros,maquiavelos y estafaos,contentos y amargaos,
valores y dubles,
pero que el siglo veinte es un desplieguede malda’ insolenteya no hay quien lo niegue;
vivimos revolcaos en un merenguey en un mismo lodo todos manoseaos.
Hoy resulta que es lo mismoser derecho que traidor
,ignorante, sabio, chorro,generoso, estafador.
Todo es igual;
nada es mejor;
lo mismo un burro que un gran profesor.
No hay aplazaos, ni escalafón;
los inmorales nos han igualao.
Si uno vive en la imposturay otro roba en su ambición,
da lo mismo que si es cura,
colchonero, rey de bastos,
caradura o polizón.
Que falta de respeto,
que atropello a la razón;
cualquiera es un señor,
cualquiera es un ladrón.
Mezclaos con Stavisky,van Don Bosco y la Mignón,
don Chicho y Napoleón,Carnera y San Martín.
Igual que en la vidriera irrespetuosade los cambalachesse
ha mezclao la vida,
y herida por un sable sin remachesves llorar la Biblia contra un calefón.
Siglo veinte, cambalacheproblematico y febril;
el que no llora, no mama,
y el que no afana es un gil.
Dale nomás, dale que vá,
que allá en el horno nos vamo a encontrar.
No pienses mas, echate a un lao,
que a nadie importa si naciste honrao.
Que es lo mismo el que laburanoche y día como un buey,
que el que vive de los otros,
que el que mata o el que curao esta fuera de la ley.
---