sexta-feira, 30 de maio de 2008

Aconteceu-me do Alto do Infinito

Aconteceu-me do alto do infinito
Esta vida.
Através de nevoeiros,
Do meu próprio ermo ser fumos primeiros,
Vim ganhando, e través estranhos ritos
De sombra e luz ocasional, e gritos

Vagos ao longe, e assomos passageiros
De saudade incógnita, luzeiros
De divino, este ser fosco e proscrito...
Caiu chuva em passados que fui eu.

Houve planícies de céu baixo e neve
Nalguma cousa de alma do que é meu.
Narrei-me à sombra e não me achei sentido.

Hoje sei-me o deserto onde Deus teve
Outrora a sua capital de olvido...

Fernando Pessoa