quarta-feira, 30 de dezembro de 2009

De onde vem a nossa espécie?


Acredito no trabalho em equipa, acredito que o ser humano aos poucos, aos solavancos, com tomadas de posição sérias, podem com todo o tempo do mundo ler o sabor do vento e saborear a alegria da água ao ser liberta das grilhetas que a oprimem!
Acredito na verdade que motiva, que faz análise e que recompensa, pois a nova ordem vai exigir que os olhos brilhem, quando falamos no nosso empenho em compreender a missão!

segunda-feira, 28 de dezembro de 2009

Sorriam Senhores




Roubei esta foto ao meu amigo Raul Bexiga Caldeira. ( ponto) http://deportaberta.blogspot.com/

Tenho a certeza que estas nostalgias que para uns são doentias, para outros, não serão mais nem menos que um querer dizer que estamos vivos ( e bem vivos ) para a defesa do nosso património e das nossas memórias.

Mas afinal o que é viver para estas gentes?

Sorriam Senhores, façam tudo nas vossas vidas como se estivessem a ser vistos por todos ao mesmo tempo!

Preservar as nossas memórias, não quer dizer que estejamos contra o presente e contra o futuro, mas sim que as estórias que contamos, os sítios da nossa terra que visitamos, os livros que falam das nossas gentes, hábitos e costumes, SÃO NOSSOS, têm o nosso trabalho, o nosso suor, é aqui que amamos, é aqui que temos os nossos amigos e até os nossos inimigos...são nossos!

Sorriam Senhores, em vez de deitar abaixo construam, em vez de se isolarem, participem, unam, dignifiquem, partilhem e caminhem ao nosso lado...

domingo, 27 de dezembro de 2009

Chafariz da Botica


Em defesa do
Chafariz da Botica e das suas árvores!
O Chafariz de S. Pedro, Igualmente conhecido como Chafariz da Botica, encontra-se situado em pleno centro histórico da Vila da Chamusca. Este Chafariz, foi inaugurado em 1875 e é um belo exemplar da arquitectura civil novecentista.
É um espaço agradável com as suas árvores centenárias, só necessita de pequenos arranjos pedonais e a requalificação do bar que lá está instalado, pois agora que a zona começa a ser mais movimentada, derivado aos seus novos moradores, há que defender estes espaços com memória!











"As fontes povoam os lugares e o imaginário colectivo. A água que brota da terra, para além de uma riqueza natural, é sempre um espectáculo agradável ao olhar. Muitas fontes são investidas de poderes quase mágicos, acreditando-se que as suas águas são benfazejas para diversos males do corpo ou da alma ..."
in site da Câmara Municipal da Chamusca

terça-feira, 22 de dezembro de 2009

Poemas



Há homens que lutam um dia,
e são bons;
Há outros que lutam um ano,
e são melhores;
Há aqueles que lutam muitos anos,
e são muito bons;
Porém há os que lutam toda a vida
Estes são os imprescindíveis

Do rio que tudo arrasta

se diz que é violento
Mas ninguém diz violentas
as margens que o comprimem.

Bertold Brecht

quarta-feira, 16 de dezembro de 2009

Lição do Ratinho




Lição do Ratinho
Fábula para aqueles que se sentem seguros na actual crise mundial. O que é mau para alguém é mau para todos...


Um rato, olhando pelo buraco na parede, vê o agricultor e sua esposa abrindo um pacote. Pensou logo no tipo de comida que haveria ali.
Ao descobrir que era uma ratoeira ficou aterrorizado.
Correu ao pátio da quinta advertindo todos:
- Há uma ratoeira na casa, uma ratoeira na casa!
A galinha disse:
- Desculpe-me Sr. Rato, eu entendo que isso seja um grande problema para si, mas não me prejudica em nada, não me incomoda.
O rato foi até ao porco e disse:
- Há uma ratoeira na casa, uma ratoeira!
- Desculpe-me Sr. Rato, disse o porco, mas não há nada que eu possa fazer, a não ser orar. Fique tranquilo que o Sr. Será lembrado nas minhas orações.
O rato dirigiu-se à vaca e ela disse-lhe:
- O quê? Uma ratoeira? Por acaso estou em perigo? Acho que não!

Então o rato voltou para casa abatido, para encarar a ratoeira.
Naquela noite ouviu-se um barulho, como o da ratoeira apanhando uma vítima. A mulher do fazendeiro correu para ver o que tinha caído na ratoeira. No escuro, não viu que na ratoeira estava uma cobra venenosa. E a cobra picou a mulher...
O agricultor levou-a imediatamente ao hospital mas ela voltou com febre.
Todo a gente sabe que para alimentar alguém com febre, nada melhor que uma canja de galinha.
O agricultou agarrou no seu cutelo e foi providenciar o ingrediente principal, a galinha.
Como a doença da mulher continuava, os amigos e vizinhos vieram visitá-la. Para os alimentar, o agricultor matou o porco.
A mulher não melhorou e acabou por morrer e muita gente veio para o funeral. O fazendeiro então sacrificou a vaca para alimentar toda aquela gente.


Moral da História:
Na próxima vez que você ouvir dizer que alguém está diante de um problema e considerar que o problema não lhe diz respeito, lembre-se de que quando há uma ratoeira na casa, toda a quinta corre perigo.

Ser livre é querer ir e ter um rumo


Ser livre é querer ir e ter um rumo
e ir sem medo,
mesmo que sejam vãos os passos.
É pensar e logo
transformar o fumo
do pensamento em braços.
É não ter pão nem vinho,
só ver portas fechadas e pessoas hostis
e arrancar teimosamente do caminho
sonhos de sol
com fúrias de raiz.
É estar atado, amordaçado, em sangue, exausto
e, mesmo assim,
só de pensar gritar
gritare só de pensar ir
ir e chegar ao fim.

Armindo Rodrigues

segunda-feira, 7 de dezembro de 2009

O mundo deles


Quando reflicto sobre quão reais e verdadeiras são para o louco as coisas da sua loucura, não posso deixar de concordar com a essência da declaração "Protágoras" de que 'o homem é a medida de todas as coisas'".

in Fernando Pessoa

sábado, 5 de dezembro de 2009

Civilis – Associação para a Cidadania e Desenvolvimento

Corpos Sociais
para o biénio, 2008/2009


Assembleia-Geral

Presidente da Assembleia-Geral, Joaquim José Duarte Garrido,
Vice-Presidente, Fernando Manuel dos Santos Freire,
Secretário, Manuel Ferraz Madeira,
Suplente, Lina Maria Tomé Palhota.

Direcção

Presidente, Aires Manuel Tavares Marques,
Vice-Presidente, Joaquim José de Macedo Viana da Fonseca,
Tesoureiro, David Pereira Garcia,
Vogal, Maria Felícia Prudêncio Gameiro,
Vogal, Fernando Manuel Amaro Pratas,
Vogal, Natércia Silva Fortunato,
Vogal, José Alves Jana,
Vogal, Maria Susete Caetano Vieira,
Vogal, Nuno André Inverno Ribeiro,
Secretário, João Luís Mota Lopes,
Secretário, Maria Isabel Pereira Serrano Jesus Oliveira,
Suplente, Maria de Fátima Caetano Vieira Lopes,
Suplente, Sónia Cristina de Matos Pereira,
Suplente, Joana Margarida Baptista Lopes.

Conselho Fiscal

Presidente, Nuno Filipe da Fonseca Gameiro,
Secretário, José Manuel Pereira Martins,
Relator, António do Carmo Pratas,
Suplente, Henrique José Ermitão Vieira Paixão.

___________////___________

Civilis – Associação para a Cidadania e Desenvolvimento
Praça da República 2260-411Vila Nova da Barquinha
Telef: 249 720 364 Fax: 249 720 368
E-mail: civilis.acd@gmail.com

quarta-feira, 2 de dezembro de 2009

Democracia

Democracia é um regime de governo onde o poder de tomar importantes decisões políticas está com os cidadãos povo, directa ou indirectamente, por meio de representantes eleitos — forma mais usual. Uma democracia pode existir num sistema presidencialista ou parlamentarista, republicano ou monárquico.

As Democracias podem ser divididas em diferentes tipos, baseado em um número de distinções. A distinção mais importante acontece entre democracia directa (algumas vezes chamada "democracia pura"), onde o povo expressa a sua vontade por voto directo em cada assunto particular, e a democracia representativa (algumas vezes chamada "democracia indirecta"), onde o povo expressa sua vontade através da eleição de representantes que tomam decisões em nome daqueles que os elegeram.

Outros itens importantes na democracia incluem exactamente quem é "o Povo", isto é, quem terá direito ao voto; como proteger os direitos de minorias contra a "tirania da maioria" e qual sistema deve ser usado para a eleição de representantes ou outros executivos.

domingo, 29 de novembro de 2009

O caminho








Leve é a tarefa
quando muitos
dividem o trabalho


Homero

sexta-feira, 27 de novembro de 2009

PARA PINTAR O RETRATO DE UM PÁSSARO

Primeiro pintar uma gaiola
com a porta aberta
pintar depois
algo de lindo
algo de simples
algo de belo
algo de útil
para o pássaro

depois dependurar a tela numa árvore
num jardim
num bosqueou numa floresta
esconder-se atrás da árvore
sem nada dizer
sem se mexer…Às vezes o pássaro chega logo
mas pode ser também que leve muitos anos
para se decidir

Não perder a esperança
esperar
esperar se preciso durante anos
a pressa ou a lentidão da chegada do pássaro
nada tem a ver
com o sucesso do quadro

Quando o pássaro chegar
se chegar
guardar o mais profundo silêncio
esperar que o pássaro entre na gaiola
e quando já estiver lá dentro
fechar lentamente a porta com o pincel

depois
apagar uma a uma todas as grades
tendo o cuidado de não tocar numa única pena do pássaro
Fazer depois o desenho da árvore
escolhendo o mais belo galho
para o pássaro
pintar também a folhagem verde e a frescura do vento
a poeira do sol
e o barulho dos insectos pelo capim no calor do verão
e depois esperar que o pássaro queira cantar

Se o pássaro não cantar
mau sinal

sinal de que o quadro é ruim
mas se cantar bom sinal
sinal de que pode assiná-lo
Então você arranca delicadamente
uma das penas do pássaro
e escreve seu nome num canto do quadro.



de “Paroles” (1945)

JACQUES PRÉVERT

sábado, 31 de outubro de 2009

O Poder

...a paralisia instala-se, seguida pela indiferença, depois pela revolta. Os controladores, estas versões burocráticas do pitoresco, não são muito, nem mais felizes, pois nem por deterem uma parcela do poder são menos submetidos a controlos.
Encontro aí um reflexo do universo prisional...

sábado, 19 de setembro de 2009

Escrito no vento

Cão que é cão, gosta que lhe façam festas.
Com estas simples palavras, o meu pai indicava-me caminhos para a compreensão, que eu confesso na altura não lhe dava o total valor. Hoje, sabendo que mais ensinamentos e descodificações de velhas frases suas, estarão para aflorar os meus pensamentos no dia-a-dia, reconheço a sua sabedoria de palavras com cultura milenar, mas que contêm todo o mundo dentro.
Vem isto a propósito de um recente artigo que li, em que "o gritante" passado a euforia dos seus actos ( ou dos seus consentidos actos ) justifica para si e só para si, atitudes reprováveis, balizando-as como "consequências das atitudes de cada um" esquecendo por opção, os valores de ética, que é a meu ver o que podemos inserir na retina de quem nos vê, a formação da pessoa que queremos ser!
Estamos na altura certa das nossas vidas, para fazer coisa da qual possamos dizer " se alguém me abre a porta...concerteza que mereço".

sábado, 12 de setembro de 2009

14 de Outubro

14 de Outubro - O General Massena tenta penetrar, sem sucesso, nas fortificações de Sobral das "Linhas de Torres" e procede à retirada para Santarém. Tentaram, igualmente, a travessia por barco mas estes foram incendiados pelos pescadores da Chamusca

Arício.

A cidade
de Arício é, descrita como uma das mais
antigas povoações da Lusitânia.
Esta antiguidade,
rebusca-a ao tempo do dilúvio
bíblico e à concessão que Noé
fez a seu neto Tubal, estabelecendo
que ele repovoasse a
parte da Terra correspondente
à Hispânia.

Ter-se-á Tubal estabelecido
no que hoje é Setúbal.
Daqui saiu um capitão do
exército de Tubal chamado
Turdulo, o qual com mais gentes
subiu pelo Tejo e, chegado
à zona do que é hoje a vila de
Chamusca, fundou a cidade
de Arício
.

ao demorar fixar-te


Ao ver-te pelo rectângulo
da minha roleflex
descobri em ti pormenores
antes despercebidos,
ao demorar fixar-te
arranjei tempo para te ver!

Ao nosso lado, os carros
continuavam a correr
como se fosse quase impossível
lá chegar a tempo
sabe-se lá que tempo e para onde!

Estavas calma, sorrias
intemporal, tinhas luz
os meus olhos, percorriam-te ávidos
senti orgulho em ter-te
sem te ter
sei que ficarás e eu partirei
mas farei do nosso encontro
um registo perpétuo de querer
moldando as formas que tens
e de amor em amor
em busca de mais saber
te amarei minha Chamusca.

in O sonho..

segunda-feira, 7 de setembro de 2009

Patxi Andion


Veinte anos de estar juntos,
esta tarde se han cumplido,
para ti flores,
perfumes para mi...!Algunos libros!
No te he dicho grandes cosas
porque no me habrian salido,
! ya sabes cosas de viejos!
!Requemor de no haber sido!
Hace tiempo que intentamos
bonar nuestro Destino,
Tú bajabas la persiana.
Yo apuraba mi ultimo vino.
Hoy En esta noche fría
casi como ignorando
el sabor de soledad compartida,
quise hacerte una canción,
para cantar despacito,
como se duerme a los ninos.
Y ya ves solo palabras, sobre notas me han salido.
Que al igual que tú y que yo,
se soportan amistosas,
ni se importan ni se estorban,
mas non son una canción.
...Qué helaba está esta casa.
...Será que está cerca del Rio.
...O es que entramos en invierno.
...Y están llegando... ...Están llegando los fríos.

sexta-feira, 21 de agosto de 2009

Atitude



"O valor das coisas
não está no tempo em que elas duram,
mas na intensidade
com que acontecem.

Por isso existem
momentos
inesquecíveis,
coisas inexplicáveis
e pessoas
incomparáveis"

in Fernando Pessoa

sexta-feira, 7 de agosto de 2009

Porque o medo - Alexandre O’Neil:




Vai ter tudo
Vai ter enredos quase inocentes
ouvidos não só nas paredes
mas também no chão
no tecto
no murmúrio dos esgotos
e talvez até (cautela!)
ouvidos nos teus ouvidos.
O medo vai ter tudo
heróis (o medo vai ter heróis!)
a tua voz talvez
talvez a minha
com certeza a deles.
Vai ter suspeitas como toda a gente...
(Penso no que o medo vai ter
e tenho medo
que é justamenteo que o medo quer.)

Alexandre O’Neil

domingo, 2 de agosto de 2009

Fernando Pessoa

Sou um evadido.
Logo que nasci
Fecharam-me em mim,
Ah, mas eu fugi.

Se a gente se cansa
Do mesmo lugar,
Do mesmo ser
Por que não se cansar?

Minha alma procura-me
Mas eu ando a monte,
Oxalá que ela
Nunca me encontre.

Ser um é cadeia,
Ser eu é não ser.
Viverei fugindo
Mas vivo a valer.

Foto bing

sábado, 18 de julho de 2009

O boato



O boato pode ter inúmeros efeitos.

Destruir uma pessoa, colocar uma pessoa num pedestal que não lhe pertence, provocar reacções colectivas, destruir uma empresa ou um produto, etc.
Todos conhecemos inúmeros boatos que percorreram a vida pública portuguesa.

O aspecto mais perigoso do boato é que muito dificilmente se desmente, tendo, por vezes, a tentativa de o negar, um efeito contrário ao pretendido.

Quase sempre recorrendo ao “não há fumo sem fogo”, esquecendo-se as pessoas que para um provérbio há sempre outro que diz exactamente o contrário, pois “nem tudo o que parece é”. Chama-se a isto sabedoria popular.

Sentenciar num sentido e arranjar imediatamente forma de sentenciar de forma inversa se tal for o mais conveniente.
O boato que neste momento corre desonrar quem se atreve a contestar formas de poder.
Quando confronto as pessoas com a falsidade desta informação, afirmam que ouviram

–A Quem? – Pergunto eu
Apontam para o dizem, ou para obscuros não me lembro , mas ninguém me diz onde está nem ninguém diz que leu.
Finalmente acabam por referir
– Dizem que é assim!
– Mas diz quem? – Pergunto eu.
Há muita gente a dizer, mas essas pessoas que dizem, interrogadas, acabam por se refugiar todas na mesma argumentação: dizem….
Às vezes surge uma novidade.
–As pessoas falam.
– Mas quem fala? – Questiono.
Ninguém sabe, ninguém viu, ninguém leu.
Concluindo. Estamos perante um boato.

Não há qualquer obrigatoriedade de questionar ou indagar se é verdade, e até agradecia que alguém me demonstrasse o contrário.
Quem pôs o boato a circular?

Não faço ideia quem o fez ( risos ), nem com que objectivos ( + risos ).
O que me preocupa é o facto de as pessoas a quem o boato se dirige aceitarem esta informação como válida, sem qualquer sentido crítico, sem procurarem saber da sua veracidade.
Contentam-se com “ é verdade porque dizem”.
Seria de esperar outra atitude?.

Pensar deve ser uma atitude assumida e não ficar numa falsa neutralidade, exposto ao que não existe.
"Uma mentira levada à exaustão, para o ser comum dos mortais, transforma-se, facilmente, numa verdade."
.
.

sexta-feira, 10 de julho de 2009

"Pintura Criativa"



Appio Cláudio, natural de Ovar, radicado na Chamusca desde 1974, Participou em numerosas exposições individuais e colectivas na Chamusca, Torres Novas, Entroncamento, Vila Nova da Barquinha, Santarém, Lisboa e Almada.Tem obras em colecções privadas e públicas em Portugal e Espanha.Embora utilize algum figurativismo, desenvolve uma pintura de fusão com fortes mensagens de cunho humanista.

segunda-feira, 6 de julho de 2009

Transporte no tempo

Requiem por um cão
Cão que matinalmente farejavas a calçada
as ervas os calhaus os seixos os paralelipípedos
os restos de comida os restos de manhã
a chuva antes caída e convertida numa como que auréola da terra
cão que isso farejas cão que nada disso já farejas
Foi um segundo súbito e ficaste ensanduichado
esborrachado comprimido e reduzido
debaixo do rodado imperturbável do pesado camião
Que tinhas que não tens diz-mo ou ladra-mo
ou utiliza então qualquer moderno meio de comunicação
diz-me lá cão que faísca fugiu do teu olhar
que falta nesse corpo afinal o mesmo corpo
só que embalado ou liofilizado?
Eras vivo e morreste nada mais teus donos
se é que os tinhas sempre que de ti falavam
falavam no presente falam no passado agora
Mudou alguma coisa de um momento para o outro
coisa sem importância de maior para quem passa
indiferente até ao halo da manhã de pensamento posto
em coisas práticas em coisas próximas
Cão que morreste tão caninamente
cão que morreste e me fazes pensar parar até
que o polícia me diz que siga em frente
Que se passou então? Um simples cão que era e já não é...


RUY BELO

sábado, 4 de julho de 2009

Mudam-se os tempos

Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades
Mudam-se os tempos,


mudam-se as vontades,

Muda-se o ser, muda-se a confiança;
Todo o mundo é composto de mudança,
Tomando sempre novas qualidades.
Continuamente vemos novidades,
Diferentes em tudo da esperança;
Do mal ficam as mágoas na lembrança,
E do bem, se algum houve, as saudades.
O tempo cobre o chão de verde manto,
Que já coberto foi de neve fria,
E em mim converte em choro o doce canto.
E, afora este mudar-se cada dia,
Outra mudança faz de mor espanto:
Que não se muda já como soía.



Luís de Camões

sexta-feira, 3 de julho de 2009

As mãos

Com mãos se faz a paz
se faz a guerra.
Com mãos tudo se faz
e se desfaz.

Com mãos se faz o poema
– e são de terra.
Com mãos se faz a guerra
– e são a paz.
Com mãos se rasga o mar.
Com mãos se lavra.
Não são de pedras estas casas mas
de mãos.
E estão no fruto e na palavra
as mãos que são o canto e são as armas.
E cravam-se no Tempo como farpas
as mãos que vês nas coisas transformadas.
Folhas que vão no vento: verdes harpas.
De mãos é cada flor cada cidade.
Ninguém pode vencer estas espadas:
nas tuas mãos começa a liberdade.

Manuel Alegre

quarta-feira, 1 de julho de 2009

O sonho

Triste de quem vive em casa,
Contente com o seu lar,
Sem que um sonho, no erguer de asa,
Faça até mais rubra a brasa
Da lareira a abandonar!

Triste de quem é feliz!
Vive porque a vida dura.
Nada na alma lhe diz
Mais que a lição da raiz
-Ter por vida a sepultura.

Fernando Pessoa

sexta-feira, 12 de junho de 2009

Francisco da Silva Brás


Pois é, a vida resume-se mesmo a isto poderá dizer-se; lutar, lutar por ela e... morrer!

Mas acho que não é assim, não pode ser assim!

Francisco Brás morreu hoje, outros vão por certo lembrar carnavais e teatros idos. Eu não!

Vou isso sim lembrar a sua coragem em perseguir sempre os seus sonhos, por mais fortes ou modestos que fossem, tinha sempre um querer lutar por aquilo que acreditava estar ao seu alcance, numa clarividência peculiar que o tornava obsessivo, e onde vincava junto das pessoas que prezava as suas opiniões fortes e decididas.

Agradeço aqui o que fez por alguns sonhos meus!


sábado, 6 de junho de 2009

PAUL ÉLUARD



Em toda a carne que tive
Na fronte dos meus amigos
Em cada mão que se estende
Escrevo o teu nome
Na vidraça das surpresas
Nos lábios que estão atentos
Muito acima do silêncio
Escrevo o teu nome
Nos meus refúgios desfeitos
Nos meus faróis aluídos
Nas paredes do meu tédio
Escrevo o teu nome
Na ausência sem desejo
Na solidão despojada
Na escadaria da morte
Escrevo o teu nome
Sobre a saúde refeita
Sobre o perigo dissipado
Sobre a esperança esquecida
Escrevo o teu nome
E pelo poder da palavra
Recomeço a minha vida
Nasci para te conhecer
Nasci para te nomear
Liberdade


LIBERDADE -POEMA DE PAUL ÉLUARD
window blues by appleplusskeleton

Liberdade "By FallenAngel24 "


Livre como um pássaro
A voar na floresta
É assim a liberdade
Que ainda nos resta

Estar preso não faz sentido
Como um medo que se sente
Tal como um pedaço de nós que está ferido
A ferver em água quente

Não existe equilíbrio
Nesta balança pesada
Sê livre com um rio
Que corre na madrugada

Ser livre é ser feliz
Estar preso é ser frustrado
Como a canção que diz
Eu quero ser amado.

By FallenAngel24

sexta-feira, 5 de junho de 2009

Descobertas


Mais vale um tempestuosa liberdade,
que uma tranquila escravidão!

O pior uso que se pode fazer da liberdade
é abdicar dela!

A liberdade é o maior dos bens
e o fundamento de todos os outros!

quinta-feira, 4 de junho de 2009

Miguel Torga, in 'Diário XII'


Liberdade
— Liberdade, que estais no céu...

Rezava o padre-nosso que sabia,
A pedir-te, humildemente,
O pio de cada dia.
Mas a tua bondade omnipotente
Nem me ouvia.

— Liberdade, que estais na terra...
E a minha voz crescia
De emoção.
Mas um silêncio triste sepultava
A fé que ressumava
Da oração.

Até que um dia, corajosamente,
Olhei noutro sentido, e pude, deslumbrado,
Saborear, enfim,
O pão da minha fome.
— Liberdade, que estais em mim,
Santificado seja o vosso nome.


Miguel Torga

quarta-feira, 3 de junho de 2009

«Trova do Vento que Passa»

Pergunto ao vento que passa
notícias do meu país
e o vento cala a desgraça
o vento nada me diz.
Pergunto aos rios que levam
tanto sonho à flor das águas
e os rios não me sossegam
levam sonhos deixam mágoas.

Levam sonhos deixam mágoas
ai rios do meu país
minha pátria à flor das águas
para onde vais? Ninguém diz.

Se o verde trevo desfolhas
pede notícias e diz
a o trevo de quatro folhas
que morro por meu país.

Pergunto à gente que passa
por que vai de olhos no chão.
Silêncio -- é tudo o que tem
quem vive na servidão.

Vi florir os verdes ramos
direitos e ao céu voltados.
E a quem gosta de ter amos
vi sempre os ombros curvados.

E o vento não me diz nada
ninguém diz nada de novo.
Vi minha pátria pregada
nos braços em cruz do povo.

Vi minha pátria na margem
dos rios que vão pró mar
como quem ama a viagem
mas tem sempre de ficar.

Vi navios a partir
(minha pátria à flor das águas)
vi minha pátria florir
(verdes folhas verdes mágoas).

Há quem te queira ignorada
e fale pátria em teu nome.
Eu vi-te crucificada
nos braços negros da fome.

E o vento não me diz nada
só o silêncio persiste.
Vi minha pátria parada
à beira de um rio triste.

Ninguém diz nada de novo
se notícias vou pedindo
nas mãos vazias do povo
vi minha pátria florindo.

E a noite cresce por dentro
dos homens do meu país.
Peço notícias ao vento
e o vento nada me diz.

Mas há sempre uma candeia
dentro da própria desgraça
há sempre alguém que semeia
canções no vento que passa.

Mesmo na noite mais triste
em tempo de servidão
há sempre alguém que resiste
há sempre alguém que diz não.

Manuel Alegre

terça-feira, 2 de junho de 2009

Nada é impossível de mudar


Desconfiai do mais trivial,
na aparência singelo.
E examinai, sobretudo,
o que parece habitual.
Suplicamos expressamente:
não aceiteis o que é de hábito
como coisa natural,
pois em tempo de desordem sangrenta,
de confusão organizada,
de arbitrariedade consciente,
de humanidade desumanizada,
nada deve parecer natural
nada deve parecer impossível de mudar.

Bertol Brecht

segunda-feira, 1 de junho de 2009

...e aspiro unicamente à liberdade


Evolução

Fui rocha em tempo e fui no mundo antigo
tronco ou ramo na incógnita floresta...
Onda, espumei, quebrando-me na aresta
Do granito, antiquíssimo inimigo...

Rugi, fera talvez, buscando abrigo
Na caverna que ensombra urze e giesta;
O, monstro primitivo, ergui a testa
No limoso paúl, glauco pascigo...

Hoje sou homem, e na sombra enorme
Vejo, a meus pés, a escada multiforme,
Que desce, em espirais, da imensidade...

Interrogo o infinito e às vezes choro...
Mas estendendo as mãos no vácuo, adoro
E aspiro unicamente à liberdade.

1882, Antero de Quental in "Sonetos".Manuscrito original.

quinta-feira, 14 de maio de 2009

Compenedor

Letras de chumbo e madeira
o A e o B e outras "quê nã sê"
outras com cordel que fazem frase inteira
que ao contrário é "ca" gente as lê.


segunda-feira, 4 de maio de 2009

U.D.C.



União Desportiva de Chamusca



Fundada em 31 de Março de 1989
Tem estatuto de Associação de Utilidade Pública Desportiva
Morada: Avenida Almirante Gago Coutinho 2140-051 Chamusca
Telefone: 249 760 105 Fax: 249 760 105 :
Fundadores:
António Ildefonso Barreto
António José da Silva Campos
Joaquim José Duarte Garrido
João José Delgado Cardador
Custódio da Luz Aranha ( Falecido )
Manuel Jorge Gomes ( Falecido )
Eurico da Silva Gomes ( Falecido)
 

sexta-feira, 1 de maio de 2009

História do dia do trabalhador





No dia 1º de Maio de 1886, 500 mil trabalhadores saíram às ruas de Chicago, nos Estados Unidos, em manifestação pacífica, exigindo a redução da jornada para oito horas de trabalho. A polícia reprimiu a manifestação, dispersando a concentração, depois de ferir e matar dezenas de operários.
Mas os trabalhadores não se deixaram abater, todos achavam que eram demais as horas diárias de trabalho, por isso, no dia 5 de Maio de 1886, quatro dias depois da reivindicação de Chicago, os operários voltaram às ruas e foram novamente reprimidos: 8 líderes presos, 4 trabalhadores executados e 3 condenados a prisão perpétua. Foi este o resultado desta segunda manifestação.
A luta não parou e a solidariedade internacional pressionou o governo americano a anular o falso julgamento e a elaborar novo júri, em 1888. Os membros que constituíam o júri reconheceram a inocência dos trabalhadores, culparam o Estado americano e ordenaram que soltassem os 3 presos.
Em 1889 o Congresso Operário Internacional, reunido em Paris, decretou o 1º de Maio, como o Dia Internacional dos Trabalhadores, um dia de luto e de luta. E, em 1890, os trabalhadores americanos conquistaram a jornada de trabalho de oito horas.
116 anos depois das grandiosas manifestações dos operários de Chicago pela luta das oito horas de trabalho e da brutal repressão patronal e policial que se abateu sobre os manifestantes, o 1º de Maio mantém todo o seu significado e actualidade.
Nos Estados Unidos da América o Dia do Trabalhador celebra-se no dia 3 de Setembro e é conhecido por "Labor Day". É um feriado nacional que é sempre comemorado na primeira segunda-feira do mês de Setembro e está relacionado com o período das colheitas e com o fim do Verão.
No Canadá este feriado chama-se "Dia de Oito Horas". Tem este nome porque se comemora a vitória da redução do dia de trabalho para oito horas.
Na Europa o "Dia do Trabalhador" comemora-se sempre no dia 1 de Maio.

domingo, 26 de abril de 2009

Liberdade


Para se compreender a relação entre a liberdade e a responsabilidade é necessário, primeiro que tudo, conhecer o que significam estas liberdades e a sua integração no contexto filosófico.
A palavra liberdade tem uma origem latina (libertas) e significa independência. Etimologicamente, a palavra responsabilidade também vem do latim (respondere) e significa ser capaz de comprometer-se.
No senso comum, liberdade é uma palavra que pode ser definida em variados sentidos (liberdade física, liberdade civil, liberdade de expressão…). Filosoficamente, a liberdade, e mais concretamente a liberdade moral, diz respeito a uma capacidade humana para escolher ou decidir racionalmente quais os actos a praticar e praticá-los sem coacções extremas. É de carácter racional, pois os homens devem pensar nas causas e consequências dos seus actos e na sua forma e conteúdo. Esta liberdade não é absoluta, é condicionada e situada. Condicionada porque intervêm no seu exercício múltiplas condicionantes (físicas, psicológicas…). Situada porque se realiza dentro da circunstância, mundo, sociedade em que vivemos. Todas as nossas acções são fruto das circunstâncias e das nossas próprias características. É também uma liberdade solidária, porque cada um de nós só é livre com os outros, visto que não vivemos sozinhos no mundo. A liberdade humana (pode chamar-se assim porque é de carácter racional e, logo, exclusiva dos homens) reside em se poder dizer sim ou não, quero ou não quero. Nada nos obriga a ter apenas uma alternativa. O exercício da liberdade exige reflexão e, logo, tempo. Por isso, a reacção é diferente da acção, visto que a primeira é imediata face a um estímulo.
A responsabilidade moral é, por sua vez, uma capacidade, e ao mesmo tempo uma obrigação moral, de assumirmos os nossos actos. É reconhecermo-nos nos nossos actos, compreender que são eles que nos constroem e moldam como pessoas. A responsabilidade implica que sejamos responsáveis antes do acto (ao escolhermos e decidirmos racionalmente, conhecendo os motivos da nossa acção e ao tentar prever as consequências desta), durante o acto (na forma como actuamos) e depois do acto (no assumir das consequências que advêm dos actos praticados).
A liberdade e a responsabilidade estão tão ligadas na medida em que só somos realmente livres de formos responsáveis, e só podemos ser responsáveis se formos livres.
A responsabilidade implica uma escolha e decisão racional, o que vai de encontro à própria definição de liberdade.
Por outro lado, se não agirmos livremente, não podemos assumir totalmente as consequências dos nossos actos, visto que as circunstâncias atenuantes seriam muito fortes. Só o sujeito que é capaz de escolher e decidir racionalmente, com consciência, é capaz de assumir as causas e as consequências da sua acção.
Além disso, a liberdade e a responsabilidade são parâmetros essenciais na construção de um indivíduo como pessoa, visto que é através da liberdade e da responsabilidade que um sujeito é capaz de se tornar efectivamente autónomo.

Patrícia Silva- S. Miguel Açores

sábado, 25 de abril de 2009

Exílio no meu país

Venho dizer-vos que não tenho medo
A verdade é mais forte que as algemas.
Venho dizer-vos que não há degredo
Quando se traz a alma cheia de poemas.

Em qualquer parte estou presente
Todo o navio da canção
E vou direito ao coração de toda a gente.
Venho dizer-vos que não tenho medo

A verdade é mais forte que as algemas.
Venho dizer-vos que não há degredo
Quando se traz a alma cheia de poemas.

Venho dizer-vos que não tenho medo.



Adriano Correia De Oliveira - Exílio Luís Cília E Manuel Alegre

A verticalidade!


A verticalidade é a qualidade da tomada de consciência
em valores morais.
A verticalidade ainda continua a ser a postura da coerência,
da essência e correlacionada com a postura erecta bípede própria do homem que faz da sua vida uma luta permanente para a evolução do seu conhecimento, ficando mais preparado para a nobre tarefa do ser simples e humanista!


quarta-feira, 22 de abril de 2009

Realidade


Sim, passava aqui frequentemente há vinte anos...
Nada está mudado - ou, pelo menos, não dou por isto
Nesta localidade da cidade ...

Há vinte anos!...
O que eu era então! Ora, era outro...
Há vinte anos, e as casas não sabem de nada...

Vinte anos inúteis (e sei lá se o foram!
Sei eu o que é útil ou inútil?)...
Vinte anos perdidos (mas o que seria ganhá-los?)

Tento reconstruir na minha imaginação
Quem eu era e como era quando por aqui passava
Há vinte anos...
Não me lembro, não me posso lembrar.

O outro que aqui passava, então,
Se existisse hoje, talvez se lembrasse...
Há tanta personagem de romance que conheço melhor por dentro
De que esse eu-mesmo que há vinte anos passava por aqui!

Sim, o mistério do tempo.
Sim, o não se saber nada,
Sim, o termos todos nascido a bordo
Sim, sim, tudo isso, ou outra forma de o dizer...

Daquela janela do segundo andar, ainda idêntica a si mesma,
Debruçava-se então uma rapariga mais velha que eu, mais lembradamente de azul.
Hoje, se calhar, está o quê?


Podemos imaginar tudo do que nada sabemos.
Estou parado físisca e moralmente: não quero imaginar nada...
Houve um dia em que subi esta rua pensando alegremente no futuro,


Pois Deus dá licença que o que não existe seja fortemente iluminado,
Hoje, descendo esta rua, nem no passado penso alegremente.
Quando muito, nem penso...
Tenho a impressão que as duas figuras se cruzaram na rua, nem então nem agora,
Mas aqui mesmo, sem tempo a perturbar o cruzamento.
Olhamos indiferentemente um para o outro.


E eu o antigo lá subi a rua imaginando um futuro girassol,
E eu o moderno lá desci a rua não imaginando nada.
Talvez isso realmente se desse...


Verdadeiramente se desse...
Sim, carnalmente se desse...
Sim, talvez...


Álvaro de Campos

sábado, 4 de abril de 2009

Os povos das Nações Unidas

"Nós, os povos das Nações Unidas, decididos:
a preservar as gerações vindouras do flagelo da guerra que por duas vezes, no espaço de uma vida humana, trouxe sofrimentos indizíveis à humanidade;
a reafirmar a nossa fé nos direitos fundamentais do homem, na dignidade e no valor da pessoa humana, na igualdade de direitos dos homens e das mulheres, assim como das nações, grandes e pequenas;
a estabelecer as condições necessárias à manutenção da justiça e do respeito das obrigações decorrentes de tratados e de outras fontes do direito internacional;
a promover o progresso social e melhores condições de vida dentro de um conceito mais amplo de liberdade;
e para tais fins:
a praticar a tolerância e a viver em paz, uns com os outros, como bons vizinhos;
a unir as nossas forças para manter a paz e a segurança internacionais;
a garantir, pela aceitação de princípios e a instituição de métodos, que a força armada não será usada, a não ser no interesse comum;
a empregar mecanismos internacionais para promover o progresso económico e social de todos os povos;
Resolvemos conjugar os nossos esforços para a consecução desses objectivos.

Em vista disso, os nossos respectivos governos, por intermédio dos seus representantes reunidos na cidade de São Francisco, depois de exibirem os seus plenos poderes, que foram achados em boa e devida forma, adoptaram a presente Carta das Nações Unidas e estabelecem, por meio dela, uma organização internacional que será conhecida pelo nome de Nações Unidas. "

terça-feira, 17 de março de 2009

O Universo

O Universo é feito essencialmente de coisa nenhuma.
Intervalos,
distâncias,
buracos,
porosidade etérea.
Espaço vazio,
em suma.
O resto, é a matéria.
Daí, que este arrepio,
este chamá-lo e tê-lo,
erguê-lo e defrontá-lo,
esta fresta de nada aberta no vazio,
deve ser um intervalo.

António Gedeão

sábado, 14 de março de 2009

O dia da criação

Macho e fêmea os criou.
Génese, 1, 27I


Hoje é sábado, amanhã é domingo
A vida vem em ondas, como o mar
Os bondes andam em cima dos trilhos
E Nosso Senhor Jesus Cristo morreu na cruz para nos salvar.
Hoje é sábado, amanhã é domingo
Não há nada como o tempo para passar
Foi muita bondade de Nosso Senhor Jesus Cristo
Mas por via das dúvidas livrai-nos meu Deus de todo mal.
Hoje é sábado, amanhã é domingo
Amanhã não gosta de ver ninguém bem
Hoje é que é o dia do presente
O dia é sábado.Impossível fugir a essa dura realidade
Neste momento todos os bares estão repletos de homens vazios
Todos os namorados estão de mãos entrelaçadas
Todos os maridos estão funcionando regularmente
Todas as mulheres estão atentas
Porque hoje é sábado.
II
Neste momento há um casamento
Porque hoje é sábado
Há um divórcio e um violamento
Porque hoje é sábado
Há um homem rico que se mata
Porque hoje é sábado
Há um incesto e uma regata
Porque hoje é sábado
Há um espetáculo de gala
Porque hoje é sábado
Há uma mulher que apanha e cala
Porque hoje é sábado
Há um renovar-se de esperanças
Porque hoje é sábado
Há uma profunda discordância
Porque hoje é sábado
Há um sedutor que tomba morto
Porque hoje é sábado
Há um grande espírito-de-porco
Porque hoje é sábado
Há uma mulher que vira homem
Porque hoje é sábado
Há criancinhas que não comem
Porque hoje é sábado
Há um piquenique de políticos
Porque hoje é sábado
Há um grande acréscimo de sífilis
Porque hoje é sábado
Há um ariano e uma mulata
Porque hoje é sábado
Há uma tensão inusitada
Porque hoje é sábado
Há adolescências seminuas
Porque hoje é sábado
Há um vampiro pelas ruas
Porque hoje é sábado
Há um grande aumento no consumo
Porque hoje é sábado
Há um noivo louco de ciúmes
Porque hoje é sábado
Há um garden-party na cadeia
Porque hoje é sábado
Há uma impassível lua cheia
Porque hoje é sábado
Há damas de todas as classes
Porque hoje é sábado
Umas difíceis, outras fáceis
Porque hoje é sábado
Há um beber e um dar sem conta
Porque hoje é sábado
Há uma infeliz que vai de tonta
Porque hoje é sábado
Há um padre passeando à paisana
Porque hoje é sábado
Há um frenesi de dar banana
Porque hoje é sábado
Há a sensação angustiante
Porque hoje é sábado
De uma mulher dentro de um homem
Porque hoje é sábado
Há a comemoração fantástica
Porque hoje é sábado
Da primeira cirurgia plástica
Porque hoje é sábado
E dando os trâmites por findos
Porque hoje é sábado
Há a perspectiva do domingo
Porque hoje é sábado
III
Por todas essas razões deverias ter sido riscado do Livro das Origens, ó Sexto Dia da Criação.
De fato, depois da Ouverture do Fiat e da divisão de luzes e trevas
E depois, da separação das águas, e depois, da fecundação da terra
E depois, da gênese dos peixes e das aves e dos animais da terra
Melhor fora que o Senhor das Esferas tivesse descansado.
Na verdade, o homem não era necessário
Nem tu, mulher, ser vegetal, dona do abismo, que queres como as plantas,
imovelmente e nunca saciada
Tu que carregas no meio de ti o vórtice supremo da paixão.
Mal procedeu o Senhor em não descansar durante os dois últimos dias
Trinta séculos lutou a humanidade pela semana inglesa
Descansasse o Senhor e simplesmente não existiríamos
Seríamos talvez polos infinitamente pequenos de partículas cósmicas em queda invisível na terra.
Não viveríamos da degola dos animais e da asfixia dos peixes
Não seríamos paridos em dor nem suaríamos o pão nosso de cada dia
Não sofreríamos males de amor nem desejaríamos a mulher do próximo
Não teríamos escola, serviço militar, casamento civil, imposto sobre a renda e missa de sétimo dia.
Seria a indizível beleza e harmonia do plano verde das terras e das águas em núpcias
A paz e o poder maior das plantas e dos astros em colóquio
A pureza maior do instinto dos peixes, das aves e dos animais em cópula.
Ao revés, precisamos ser lógicos, freqüentemente dogmáticos
Precisamos encarar o problema das colocações morais e estéticas
Ser sociais, cultivar hábitos, rir sem vontade e até praticar amor sem vontade
Tudo isso porque o Senhor cismou em não descansar no Sexto Dia e sim no Sétimo
E para não ficar com as vastas mãos abanandoResolveu fazer o homem à sua imagem e semelhança
Possivelmente, isto é, muito provavelmente
Porque era sábado.

Vinicius de Moraes

quarta-feira, 11 de março de 2009

A noite do meu bem

Hoje eu quero a rosa mais linda que houver
E a primeira estrela que vier
Para enfeitar a noite do meu bem
Hoje eu quero a paz de criança dormindo
E o abandono das flores se abrindo
Para enfeitar a noite do meu bem
Quero a alegria de um barco voltando
Quero a ternura de mãos se encontrando
Para enfeitar a noite do meu bem
Ah! Eu quero o amor mais profundo
Eu quero toda a beleza do mundo
Para enfeitar a noite do meu bem
Ah! Como este bem demorou a chegar
Eu já nem sei se terei no olhar
Toda a ternura que eu quero lhe dar.


Dolores Duran/Elis Regina

segunda-feira, 9 de março de 2009

Hino Nacional

Data: 1890 (com alterações de 1957)Letra: Henrique Lopes de MendonçaMúsica: Alfredo Keil

Heróis do mar, nobre povo,
Nação valente, imortal,
Levantai hoje de novo
O esplendor de Portugal!
Entre as brumas da memória,
Ó Pátria sente-se a voz
Dos teus egrégios avós,
Que há-de guiar-te à vitória!
Às armas, às armas!
Sobre a terra, sobre o mar,
Às armas, às armas!
Pela Pátria lutar
Contra os canhões marchar, marchar!

Desfralda a invicta Bandeira,
À luz viva do teu céu!
Brade a Europa à terra inteira:
Portugal não pereceu
Beija o solo teu jucundo
O oceano, a rugir d'amor,
E o teu braço vencedor
Deu mundos novos ao Mundo!
Às armas, às armas!
Sobre a terra, sobre o mar,
Às armas, às armas!
Pela Pátria lutar
Contra os canhões marchar, marchar!
Saudai o Sol que desponta
Sobre um ridente porvir;
Seja o eco de uma afronta
O sinal do ressurgir.
Raios dessa aurora forte
São como beijos de mãe,
Que nos guardam, nos sustêm,
Contra as injúrias da sorte.
Às armas, às armas!
Sobre a terra, sobre o mar,
Ás armas, às armas!
Pela Pátria lutar
Contra os canhões marchar, marchar!

Data: 1890 (versão original)[1]Letra: Henrique Lopes de MendonçaMúsica: Alfredo Keil

Herois do mar, nobre povo,
Nação valente, imortal,
Levantai hoje de novo
O esplendor de Portugal!
Entre as brumas da memoria,
Oh patria sente-se a voz
Dos teus egrégios avós,
Que há-de guiar-te à vitória!
Às armas, às armas!
Sobre a terra, sobre o mar,
Às armas, às armas!
Pela patria lutar!
Contra os Bretões marchar, marchar!
Desfralda a invicta bandeira,
À luz viva do teu céo!
Brade a Europa á terra inteira:
Portugal não pereceu!
Beija o teu sólo jucundo
O Oceano, a rugir de amor;
E o teu braço vencedor
Deu mundos novos ao mundo!
Às armas, às armas!
Sobre a terra, sobre o mar,
Às armas, às armas!
Pela patria lutar!
Contra os Bretões marchar!
Saudai o sol que desponta
Sobre um ridente porvir;
Seja o eco de uma afronta
O sinal do resurgir.
Raios dessa aurora forte
São como beijos de mãe,
Que nos guardam, nos sustêm,
Contra as injurias da sorte.
Às armas, às armas!Sobre a terra, sobre o mar,
Às armas, às armas!
Pela patria lutar!
Contra os Bretões marchar!!

domingo, 8 de março de 2009

BOOK TOWNS - COMUNIDADES ONDE QUASE TUDO GIRA À VOLTA DOS LIVROS!


As Book Towns (Comunidades de Livros) são localidades cujas actividades económicas e culturais centram-se quase exclusivamente nos livros. Localizam-se geralmente em pequenas localidades de interesse histórico/patrimonial, cultural ou mesmo paisagístico, concentrando-se nelas um elevado número de livrarias e afins, que comercializam sobretudo livros antigos e/ou em segunda mão.
Hay-on-Wye.
Em 1961 Richard Booth, um graduado de Oxford, teve a ideia de transformar uma histórica povoação rural em gradual declínio, no País de Gales, Hay-on-Wye, numa Comunidade de Livros. Richard Booth comprou algumas casas abandonadas contíguas e aí implantou o maior alfarrábio de todo o Mundo. Apesar da sua localização numa área rural, Hay-on-Wye possui importantes núcleos urbanos relativamente próximos. Ao longo dos anos foi incentivando e auxiliando muitos outros na abertura de novas lojas em Hay-on-Wye. Em jeito de provocação jocosa em 1977 Booth declarou “independente” Hay-on-Wye , publicando as próprias leis “Home Rule for Hay” e (auto)coroou-se Rei dos Livros. Este facto, se na prática não redundou em nenhuma efectiva mudança administrativa, pelo menos teve o condão de projectar Hay-on-Wye pelo mundo fora, nomeadamente nos círculos dos livros e da cultura. Isso revelou-se crucial para o incremento do seu sucesso a um ritmo exponencial, contando hoje com mais de 30 livrarias/alfarrábios de grande dimensão e atingindo um montante anual de turistas superior a meio milhão. Desde 1988 realiza-se anualmente um festival “Hay Literary Festival“, em colaboração com o jornal “The Guardian” que atrai mais de 80 mil pessoas cujo interesse são os livros. Hay-on-Wye afirma-se na actualidade como um burgo já de razoável dimensão e importância Este êxito induziu outras localidades do resto do mundo a reproduzirem o seu modelo. Em especial os anos de 1993 e 1997 revelaram-se muito frutíferos no surgimento de novas Book Towns, respectivamente com cinco (1993) e oito (1997) novas localidades a aderirem a este modelo.
Uma das características destas Booktowns é formarem um catálogo comum das suas obras dos diversos livreiros e alfarrábios de modo a que este assuma maior visibilidade e o acesso às obras por parte dos visitantes/clientes seja facilitado. Com o advento da Internet esse catálogo passou na maior parte dos casos a estar disponível em rede na Web, o que contribuiu para exponenciar de modo significativo o número de clientes.Outra particularidade das Book Towns é o elevado número de evento e iniciativas ligadas ao universo dos livro que são realizadas ao longo do ano, designadamente os seus Festivais de livros
Na Europa têm sido envidados esforços para que cada país possue, pelo menos, uma Book Town. Na actualidade, contabilizam-se nível mundial, cerca de três dezenas de Book Towns, sendo que dezanove delas se localizam na Europa, destacando-se a França que concentra seis delas.As Book Towns representam uma estratégia modelar para o desenvolvimento rural e turístico sustentável, e contribuindo para afixação de pessoas em zonas rurais. A nível dos sectores de turismo e lazer afirma-se como uma formato inovador, granjeando elevado sucesso, e que é cada vez mais reproduzido pelo mundo fora.
Uma parte significativa das Book Towns estão agrupadas na I.O.B. - International Organisation of Book Towns (Organização Internacional de Comunidades de Livros) que congrega no momento 13 povoações. Algumas das Book Towns (ainda) não integram a IOB em face de não cumprirem os rigoroso critérios por ela propostos, ou porque simplesmente não têm essa intenção. A IOB foi fundada como consequência do projecto da União Europeia “EU-project UR 4001 : European Book Town Network

Por fernando vilarinho

quinta-feira, 5 de fevereiro de 2009

Existes


Aunque tu marcha sea fatigosa
y el cansancio te duela, no claudiques,
piensa en el río que tumbando diques
avanza libre em fuerza candorosa

Si existes (?) qué ha de ser más importante
que vibrar en la asencia de la vida ?
Sé aquél ave que com el ala herida
aún sin volar, caminha hacia adelante

Com paso firme y fiel contigo mismo
no dejes que tu barca pierda el rumbo
ni ante el oleaje feroz del egoismo
Que no se apague entre el pesado mundo
nin se amilane en el oscuro abismo
la llama azul, de tu sentir profundo.


E.J.Malinowski

Barcelona 18 de Fevereiro de 1998

quarta-feira, 4 de fevereiro de 2009

Receita para matar um homem




Tomam-se umas dezenas de quilos de carne, ossos e sangue, segundo os padrões adequados. Dispõem-se harmoniosamente em cabeça, tronco e membros, recheiam-se de vísceras e de uma rede de veias e nervos, tendo o cuidado de evitar erros de fabrico que dêem pretexto ao aparecimento de fenómenos teratológicos. A cor da pele não tem importância nenhuma.

Ao produto deste trabalho melindroso dá-se o nome de homem. Serve-se quente ou frio, conforme a latitude, a estação do ano, a idade e o temperamento. Quando se pretende lançar protótipos no mercado, infundem-se-lhes algumas qualidades que os vão distinguir do comum: coragem, inteligência, sensibilidade, carácter, amor da justiça, bondade activa, respeito pelo próximo e pelo distante. Os produtos de segunda escolha terão, em maior ou menos grau, um ou outro destes atributos positivos, a par dos opostos, em geral predominantes. Manda a modéstia não considerar viáveis os produtos integralmente positivos ou negativos. De qualquer modo, sabe-se que também nestes casos a cor da pele não tem importância nenhuma.

O homem, entretanto classificado por um rótulo pessoal que o distinguirá dos seus parceiros, saídos como ele da linha de montagem, é posto a viver num edifício a que se dá, por sua vez, o nome de Sociedade. Ocupará um dos andares desse edifício, mas raramente lhe será consentido subir a escada. Descer é permitido e por vezes facilitado. Nos andares do edifício há muitas moradas, designadas umas vezes por camadas sociais, outras vezes por profissões. A circulação faz-se por canais chamados hábito, costume e preconceito. É perigoso andar contra a corrente dos canais, embora certos homens o façam durante toda a sua vida. Esses homens, em cuja massa carnal estão fundidas as qualidades que roçam a perfeição, ou que por essas qualidades optaram deliberadamente, não se distinguem pela cor da pele. Há-os brancos e negros, amarelos e pardos. São poucos os acobreados por se tratar de uma série quase extinta.

O destino final do homem é, como se sabe desde o princípio do mundo, a morte. A morte, no seu momento preciso, é igual para todos. Não o que a precede imediatamente. Pode-se morrer com simplicidade, como quem adormece; pode-se morrer entre as tenazes de uma dessas doenças de que eufemisticamente se diz que “não perdoam”; pode-se morrer sob a tortura, num campo de concentração; pode-se morrer volatilizado no interior de um sol atómico; pode-se morrer ao volante de um Jaguar ou atropelado por ele; pode-se morrer de fome ou de indigestão; pode-se morrer também de um tiro de espingarda, ao fim da tarde, quando ainda hà luz de dia e não se acredita que a morte esteja perto. Mas a cor da pele não tem importância nenhuma.

Martin Luther King era um homem como qualquer de nós. Tinha as virtudes que sabemos, certamente alguns defeitos que não lhe diminuíam as virtudes. Tinha um trabalho a fazer – e fazia-o. Lutava contra as correntes do costume, do hábito e do preconceito, mergulhado nelas até ao pescoço. Até que veio o tiro de espingarda lembrar aos distraídos que nós somos que a cor da pele tem muita importância.

Receita para matar um homem - By José Saramago

segunda-feira, 2 de fevereiro de 2009

Carta Internacional dos Direitos Humanos


Declaração Universal dos Direitos do Homem *
Adoptada e proclamada pela Assembleia Geral na sua Resolução 217A (III) de 10 de Dezembro de 1948.

Preâmbulo
Considerando que o reconhecimento da dignidade inerente a todos os membros da família humana e dos seus direitos iguais e inalienáveis constitui o fundamento da liberdade, da justiça e da paz no mundo;
Considerando que o desconhecimento e o desprezo dos direitos do homem conduziram a actos de barbárie que revoltam a consciência da Humanidade e que o advento de um mundo em que os seres humanos sejam livres de falar e de crer, libertos do terror e da miséria, foi proclamado como a mais alta inspiração do homem;
Considerando que é essencial a protecção dos direitos do homem através de um regime de direito, para que o homem não seja compelido, em supremo recurso, à revolta contra a tirania e a opressão;
Considerando que é essencial encorajar o desenvolvimento de relações amistosas entre as nações;
Considerando que, na Carta, os povos das Nações Unidas proclamam, de novo, a sua fé nos direitos fundamentais do homem, na dignidade e no valor da pessoa humana, na igualdade de direitos dos homens e das mulheres e se declararam resolvidos a favorecer o progresso social e a instaurar melhores condições de vida dentro de uma liberdade mais ampla;
Considerando que os Estados membros se comprometeram a promover, em cooperação com a Organização das Nações Unidas, o respeito universal e efectivo dos direitos do homem e das liberdades fundamentais;
Considerando que uma concepção comum destes direitos e liberdades é da mais alta importância para dar plena satisfação a tal compromisso: Proclama a presente Declaração Universal dos Direitos do Homem como ideal comum a atingir por todos os povos e todas as nações, a fim de que todos os indivíduos e todos os órgãos da sociedade, tendo-a constantemente no espírito, se esforcem, pelo ensino e pela educação, por desenvolver o respeito desses direitos e liberdades e por promover, por medidas progressivas de ordem nacional e internacional, o seu reconhecimento e a sua aplicação universais e efectivos tanto entre as populações dos próprios Estados membros como entre as dos territórios colocados sob a sua jurisdição.
Artigo 1.º
Todos os seres humanos nascem livres e iguais em dignidade e em direitos. Dotados de razão e de consciência, devem agir uns para com os outros em espírito de fraternidade.
Artigo 2.º
Todos os seres humanos podem invocar os direitos e as liberdades proclamados na presente Declaração, sem distinção alguma, nomeadamente de raça, de cor, de sexo, de língua, de religião, de opinião política ou outra, de origem nacional ou social, de fortuna, de nascimento ou de qualquer outra situação.
Além disso, não será feita nenhuma distinção fundada no estatuto político, jurídico ou internacional do país ou do território da naturalidade da pessoa, seja esse país ou território independente, sob tutela, autónomo ou sujeito a alguma limitação de soberania.
Artigo 3.º
Todo o indivíduo tem direito à vida, à liberdade e à segurança pessoal.
Artigo 4.º
Ninguém será mantido em escravatura ou em servidão; a escravatura e o trato dos escravos, sob todas as formas, são proibidos.
Artigo 5.º
Ninguém será submetido a tortura nem a penas ou tratamentos cruéis, desumanos ou degradantes.
Artigo 6.º
Todos os indivíduos têm direito ao reconhecimento em todos os lugares da sua personalidade jurídica.
Artigo 7.º
Todos são iguais perante a lei e, sem distinção, têm direito a igual protecção da lei. Todos têm direito a protecção igual contra qualquer discriminação que viole a presente Declaração e contra qualquer incitamento a tal discriminação.
Artigo 8.º
Toda a pessoa tem direito a recurso efectivo para as jurisdições nacionais competentes contra os actos que violem os direitos fundamentais reconhecidos pela Constituição ou pela lei.
Artigo 9.º
Ninguém pode ser arbitrariamente preso, detido ou exilado.
Artigo 10.º
Toda a pessoa tem direito, em plena igualdade, a que a sua causa seja equitativa e publicamente julgada por um tribunal independente e imparcial que decida dos seus direitos e obrigações ou das razões de qualquer acusação em matéria penal que contra ela seja deduzida.
Artigo 11.º
1. Toda a pessoa acusada de um acto delituoso presume-se inocente até que a sua culpabilidade fique legalmente provada no decurso de um processo público em que todas as garantias necessárias de defesa lhe sejam asseguradas.
2. Ninguém será condenado por acções ou omissões que, no momento da sua prática, não constituíam acto delituoso à face do direito interno ou internacional. Do mesmo modo, não será infligida pena mais grave do que a que era aplicável no momento em que o acto delituoso foi cometido.
Artigo 12.º
Ninguém sofrerá intromissões arbitrárias na sua vida privada, na sua família, no seu domicílio ou na sua correspondência, nem ataques à sua honra e reputação. Contra tais intromissões ou ataques toda a pessoa tem direito a protecção da lei.
Artigo 13.º
1. Toda a pessoa tem o direito de livremente circular e escolher a sua residência no interior de um Estado.
2. Toda a pessoa tem o direito de abandonar o país em que se encontra, incluindo o seu, e o direito de regressar ao seu país.
Artigo 14.º
1. Toda a pessoa sujeita a perseguição tem o direito de procurar e de beneficiar de asilo em outros países.
2. Este direito não pode, porém, ser invocado no caso de processo realmente existente por crime de direito comum ou por actividades contrárias aos fins e aos princípios das Nações Unidas.
Artigo 15.º
1. Todo o indivíduo tem direito a ter uma nacionalidade.
2. Ninguém pode ser arbitrariamente privado da sua nacionalidade nem do direito de mudar de nacionalidade.
Artigo 16.º
1. A partir da idade núbil, o homem e a mulher têm o direito de casar e de constituir família, sem restrição alguma de raça, nacionalidade ou religião. Durante o casamento e na altura da sua dissolução, ambos têm direitos iguais.
2. O casamento não pode ser celebrado sem o livre e pleno consentimento dos futuros esposos.
3. A família é o elemento natural e fundamental da sociedade e tem direito à protecção desta e do Estado.
Artigo 17.º
1. Toda a pessoa, individual ou colectivamente, tem direito à propriedade.
2. Ninguém pode ser arbitrariamente privado da sua propriedade.
Artigo 18.º
Toda a pessoa tem direito à liberdade de pensamento, de consciência e de religião; este direito implica a liberdade de mudar de religião ou de convicção, assim como a liberdade de manifestar a religião ou convicção, sozinho ou em comum, tanto em público como em privado, pelo ensino, pela prática, pelo culto e pelos ritos.
Artigo 19.º
Todo o indivíduo tem direito à liberdade de opinião e de expressão, o que implica o direito de não ser inquietado pelas suas opiniões e o de procurar, receber e difundir, sem consideração de fronteiras, informações e ideias por qualquer meio de expressão.
Artigo 20.º
1. Toda a pessoa tem direito à liberdade de reunião e de associação pacíficas.
2. Ninguém pode ser obrigado a fazer parte de uma associação.
Artigo 21.º
1. Toda a pessoa tem o direito de tomar parte na direcção dos negócios públicos do seu país, quer directamente, quer por intermédio de representantes livremente escolhidos.
2. Toda a pessoa tem direito de acesso, em condições de igualdade, às funções públicos do seu país.
3. A vontade do povo é o fundamento da autoridade dos poderes públicos; e deve exprimir-se através de eleições honestas a realizar periodicamente por sufrágio universal e igual, com voto secreto ou segundo processo equivalente que salvaguarde a liberdade de voto.
Artigo 22.º
Toda a pessoa, como membro da sociedade, tem direito à segurança social; e pode legitimamente exigir a satisfação dos direitos económicos, sociais e culturais indispensáveis, graças ao esforço nacional e à cooperação internacional, de harmonia com a organização e os recursos de cada país.
Artigo 23.º
1. Toda a pessoa tem direito ao trabalho, à livre escolha do trabalho, a condições equitativas e satisfatórias de trabalho e à protecção contra o desemprego.
2. Todos têm direito, sem discriminação alguma, a salário igual por trabalho igual.
3. Quem trabalha tem direito a uma remuneração equitativa e satisfatória, que lhe permita e à sua família uma existência conforme com a dignidade humana, e completada, se possível, por todos os outros meios de protecção social.
4. Toda a pessoa tem o direito de fundar com outras pessoas sindicatos e de se filiar em sindicatos para a defesa dos seus interesses.
Artigo 24.º
Toda a pessoa tem direito ao repouso e aos lazeres e, especialmente, a uma limitação razoável da duração do trabalho e a férias periódicas pagas.
Artigo 25.º
1. Toda a pessoa tem direito a um nível de vida suficiente para lhe assegurar e à sua família a saúde e o bem-estar, principalmente quanto à alimentação, ao vestuário, ao alojamento, à assistência médica e ainda quanto aos serviços sociais necessários, e tem direito à segurança no desemprego, na doença, na invalidez, na viuvez, na velhice ou noutros casos de perda de meios de subsistência por circunstâncias independentes da sua vontade.
2. A maternidade e a infância têm direito a ajuda e a assistência especiais. Todas as crianças, nascidas dentro ou fora do matrimónio, gozam da mesma protecção social.
Artigo 26.º
1. Toda a pessoa tem direito à educação. A educação deve ser gratuita, pelo menos a correspondente ao ensino elementar fundamental. O ensino elementar é obrigatório. O ensino técnico e profissional deve ser generalizado; o acesso aos estudos superiores deve estar aberto a todos em plena igualdade, em função do seu mérito.
2. A educação deve visar à plena expansão da personalidade humana e ao reforço dos direitos do homem e das liberdades fundamentais e deve favorecer a compreensão, a tolerância e a amizade entre todas as nações e todos os grupos raciais ou religiosos, bem como o desenvolvimento das actividades das Nações Unidas para a manutenção da paz.
3. Aos pais pertence a prioridade do direito de escolher o género de educação a dar aos filhos.
Artigo 27.º
1. Toda a pessoa tem o direito de tomar parte livremente na vida cultural da comunidade, de fruir as artes e de participar no progresso científico e nos benefícios que deste resultam.
2. Todos têm direito à protecção dos interesses morais e materiais ligados a qualquer produção científica, literária ou artística da sua autoria.
Artigo 28.º
Toda a pessoa tem direito a que reine, no plano social e no plano internacional, uma ordem capaz de tornar plenamente efectivos os direitos e as liberdades enunciados na presente Declaração.
Artigo 29.º
1. O indivíduo tem deveres para com a comunidade, fora da qual não é possível o livre e pleno desenvolvimento da sua personalidade.
2. No exercício destes direitos e no gozo destas liberdades ninguém está sujeito senão às limitações estabelecidas pela lei com vista exclusivamente a promover o reconhecimento e o respeito dos direitos e liberdades dos outros e a fim de satisfazer as justas exigências da moral, da ordem pública e do bem-estar numa sociedade democrática.
3. Em caso algum estes direitos e liberdades poderão ser exercidos contrariamente aos fins e aos princípios das Nações Unidas.
Artigo 30.º
Nenhuma disposição da presente Declaração pode ser interpretada de maneira a envolver para qualquer Estado, agrupamento ou indivíduo o direito de se entregar a alguma actividade ou de praticar algum acto destinado a destruir os direitos e liberdades aqui enunciados.