sexta-feira, 12 de dezembro de 2008

Eu Vim de Longe

Quando o avião aqui chegou
Quando o mês de maio começou
Eu olhei para ti
Então entendi
Foi um sonho mau que já passou
Foi um mau bocado que acabou
Tinha esta viola numa mão
Uma flor vermelha na outra mão
Tinha um grande amor
Marcado pela dor
E quando a fronteira me abraçou
Foi esta bagagem que encontrou
Eu vim de longe
De muito longe
O que eu andei pra aqui chegar
Eu vou pra longe
Pra muito longe
Onde nos vamos encontrar
Com o que temos pra nos dar
E então olhei à minha volta
Vi tanta esperança andar à solta
Que não hesitei
E os hinos cantei
Foram feitos do meu coração
Feitos de alegria e de paixão
Quando a nossa festa se estragou
E o mês de Novembro se vingou
Eu olhei pra ti
E então entendi
Foi um sonho lindo que acabou
Houve aqui alguém que se enganou
Tinha esta viola numa mão
Coisas começadas noutra mão
Tinha um grande amor
Marcado pela dor
E quando a espingarda se virou
Foi pra esta força que apontou
E então olhei à minha volta
Vi tanta mentira andar à solta
Que me perguntei
Se os hinos que cantei
Eram só promessas e ilusões
Que nunca passaram de canções
Eu vim de longe
De muito longe
O que eu andei pra aqui chegar
Eu vou pra longe
P´ra muito longe
Onde nos vamos encontrar
Com o que temos pra nos dar
Quando eu finalmente eu quis saber
Se ainda vale a pena tanto crer
Eu olhei para ti
Então eu entendi
É um lindo sonho para viver
Quando toda a gente assim quiser
Tenho esta viola numa mão
Tenho a minha vida noutra mão
Tenho um grande amor
Marcado pela dor
E sempre que Abril aqui passar
Dou-lhe este farnel para o ajudar
Eu vim de longe
De muito longe
O que eu andei pra aqui chegar
Eu vou p´ra longe
P´ra muito longe
Onde nos vamos encontrar
Com o que temos pra nos dar
E agora eu olho à minha volta
Vejo tanta raiva andar a solta
Que já não hesito
Os hinos que repito
São a parte que eu posso prever
Do que a minha gente vai fazer
Eu vim de longeDe muito longe
O que eu andei prá aqui chegar
Eu vou pra longe
P´ra muito longe
Onde nos vamos encontrar
Com o que temos pra nos dar

-
Vim de Longe
Composição: José Mário Branco

segunda-feira, 22 de setembro de 2008

Queixa das Almas Jovens Censuradas

Dão-nos um lírio e um canivete
E uma alma para ir à escola
Mais um letreiro que promete
Raízes, hastes e corola

Dão-nos um mapa imaginário
Que tem a forma de uma cidade
Mais um relógio e um calendário
Onde não vem a nossa idade

Dão-nos a honra de manequim
Para dar corda à nossa ausência.
Dão-nos um prémio de ser assim
Sem pecado e sem inocência

Dão-nos um barco e um chapéu
Para tirarmos o retrato
Dão-nos bilhetes para o céu
Levado à cena num teatro

Penteiam-nos os crâneos ermos
Com as cabeleiras das avós
Para jamais nos parecermos
Connosco quando estamos sós

Dão-nos um bolo que é a história
Da nossa historia sem enredo
E não nos soa na memória
Outra palavra que o medo

Temos fantasmas tão educados
Que adormecemos no seu ombro
Somos vazios despovoados
De personagens de assombro

Dão-nos a capa do evangelho
E um pacote de tabaco
Dão-nos um pente e um espelho
Pra pentearmos um macaco

Dão-nos um cravo preso à cabeça
E uma cabeça presa à cintura
Para que o corpo não pareça
A forma da alma que o procura

Dão-nos um esquife feito de ferro
Com embutidos de diamante
Para organizar já o enterro
Do nosso corpo mais adiante

Dão-nos um nome e um jornal
Um avião e um violino
Mas não nos dão o animal
Que espeta os cornos no destino

Dão-nos marujos de papelão
Com carimbo no passaporte
Por isso a nossa dimensão
Não é a vida, nem é a morte

Composição: Natália Correia

quarta-feira, 17 de setembro de 2008

Cambalache


Cambalache
Que el mundo fue y será una porquería,
ya lo sé;
en el quinientos seisy en el dos mil también;
que siempre ha habido chorros,maquiavelos y estafaos,contentos y amargaos,
valores y dubles,
pero que el siglo veinte es un desplieguede malda’ insolenteya no hay quien lo niegue;
vivimos revolcaos en un merenguey en un mismo lodo todos manoseaos.
Hoy resulta que es lo mismoser derecho que traidor
,ignorante, sabio, chorro,generoso, estafador.
Todo es igual;
nada es mejor;
lo mismo un burro que un gran profesor.
No hay aplazaos, ni escalafón;
los inmorales nos han igualao.
Si uno vive en la imposturay otro roba en su ambición,
da lo mismo que si es cura,
colchonero, rey de bastos,
caradura o polizón.
Que falta de respeto,
que atropello a la razón;
cualquiera es un señor,
cualquiera es un ladrón.
Mezclaos con Stavisky,van Don Bosco y la Mignón,
don Chicho y Napoleón,Carnera y San Martín.
Igual que en la vidriera irrespetuosade los cambalachesse
ha mezclao la vida,
y herida por un sable sin remachesves llorar la Biblia contra un calefón.
Siglo veinte, cambalacheproblematico y febril;
el que no llora, no mama,
y el que no afana es un gil.
Dale nomás, dale que vá,
que allá en el horno nos vamo a encontrar.
No pienses mas, echate a un lao,
que a nadie importa si naciste honrao.
Que es lo mismo el que laburanoche y día como un buey,
que el que vive de los otros,
que el que mata o el que curao esta fuera de la ley.
---

quarta-feira, 16 de julho de 2008

21 a 26 de Junho 2008 ICAN


Editoras representadas no ICAN
--/--
BARKUHUIS PUBLISHING
EGBERT FORSTEN PUBLISHING
EDIÇÕES COSMOS
CAMBRIDGE UNIVERSITY PRESS
YALE UNIVERSITY PRESS
UNIVERSITY CALIFORNIA PRESS
--/--
FUNDAÇÃO CALOUSTE GULBENKIAN
21 DE Junho a 26 de Junho 2008

segunda-feira, 30 de junho de 2008

A nossa Vida! (?)


Às vezes se te lembras procurava-te
retinha-te esgotava-te e se te não perdia
era só por haver-te já perdido ao encontra-te
Nada no fundo tinha que dizer-te
e para ver-te verdadeiramente
e na tua visão me comprazer
indispensável era evitar ter-te
Era tudo tão simples quando te esperava
tão disponível como então eu estava
Mas hoje há os papéis há as voltas a dar
há gente à minha volta há a gravata
Misturei muitas coisas com a tua imagem
Tu és a mesma mas nem imaginas
como mudou aquele que te esperava
Tu sabes como era se soubesses como é
Numa vida tão curta mudei muito
que é com certo espanto que no espelho de manhã
distraído diviso a cara que me resta
depois de tudo quanto o tempo me levou
Eu tinha uma cidade tinha o nome de madrid
havia as ruas as pessoas o anonimato
os bares os cinemas os museus
um dia vi-te e desde então madrid
se porventura tem ainda para mim sentido
é ser a solidão que te rodeia a ti
Mas o preço que pago por te ter
é ter-te apenas quanto poder ver-te
e ao ver-te saber que vou deixar de ver-te
Sou muito pobre tenho só por mim
no meio destas ruas e do pão e dos jornais
este sol de janeiro e alguns amigos mais
Mesmo agora te vejo e mesmo ao ver-te não te vejo
pois sei que dentro em pouco deixarei de ver-te
....
Vejo-te agora vi-te ontem e anteontem
e penso que se nunca a bem te vejo
se fosse além de ver-te sem remédio te perdia
Mas eu dizia que te via aqui e acolá
e quando te não via dependia
do momento marcado para ver-te
...
por isso mais te via do que ao ter-te à minha frente
Mas sabia e sei que um dia não virás
que até duvidarei se tu estiveste onde estiveste
ou até se exististe ou se eu mesmo existi
pois na dúvida tenho a única certeza
Terá mesmo existido o sítio onde estivemos?
...
Passamos como tudo sem remédio passa
e um dia decerto mesmo duvidamos
dia não tão distante como nós pensamos
se estivemos ali se madrid existiu
Se portanto chegares tu primeiro porventura
alguma vez daqui a alguns anos
junto de califórnia vinte e um
que não te admires se olhares e me não vires
Estarei longe talvez tenha envelhecido
terei até talvez mesmo morrido
Não te deixes ficar sequer à minha espera
...
Nada penses ou faças vai-te embora
tu serás jovem como agora
tu serás sempre a mesma fresca jovem pura
que alaga de luz todos os olhos
que exibe o sossego dos antigos templos
e que resiste ao tempo como a pedra
que vê passar os dias um por um
que contempla a sucessão da escoridão e luz
...
que embora tudo mude nunca muda
ou se mudar que se não lembre de morrer
ou que enfim morra mas que não me desiluda
Dizia que ao chegar se olhares e me não vires
nada penses ou faças vai-te embora
eu não te faço falta e não tem sentido
esperares por quem talvez tenha morrido
ou nem sequer talvez tenha existido


in Rui Belo

sábado, 14 de junho de 2008

A ABORDAGEM DOS MEDOS E DA RUPTURA

MULHER DESAPARECIDA A SUL, de Modesto Navarro Que nos amamos pouco e mal, todos o sabemos. Por vezes, amargamente o sabemos. Garrett avisou-nos, mas de pouco nos serviu. Continuamos, sobranceiros e diligentes, a ignorarmo-nos mutuamente. Conseguimos amar o que nos chega de fora, a assimilar acrítica e devotadamente, todos os subprodutos que os impérios mediáticos promovem, com mão operativa e marketing agressivo, levando-nos ao consumo desbragado e irracional. Assim, nesta deriva consumista, nos fomos ao longo dos anos (com claros e graves sinais, a partir dos anos 1980) aculturando e transformando numa massa acrítica, consumidores passivos e sentados nas ameias do sofá de todo o género de produtos culturais estranhos, promovidos em caixa alta e primeiras páginas pelos media de serviço. Esquecemos, ou levaram-nos a esquecer, que num mundo globalizado como este em que vivemos, os povos que não assumem a sua identidade cultural, que não respeitam e promovem os seus valores patrimoniais, tenderá a desaparecer no confronto cultural com outros povos. E um povo, para o ser enquanto identidade colectiva, precisa de referentes, de sinais, de raízes. Só nesse confronto se afirmará singular, só impondo a diferença à diversidade global, a nossa identidade cultural nos poderemos afirmar como povo autónomo livre e respeitado no confronto com outras culturas que de há muito perceberam que a verdadeira marca, que a perenidade da sua passagem pelo espaço que nos é comum, passa indubitavelmente pela capacidade e génio criador dos seus povos. Tudo o resto é volátil e de passagem. António Damásio, afirmou, numa conferência realizada na Gulbenkian, que não cabe à matemática moldar o homem ou o seu carácter de cidadão: essa é tarefa primordial e exclusiva da cultura. Só se aprende a andar, andando, escreveu o poeta espanhol António Machado. Os nossos passos, enquanto povo, passam impressivamente pela nossa história política, cultural e artística. Sem esses referentes memoriais, criativos e históricos, perdemos identidade, fundimo-nos sem honra nem glória (e sem previsíveis vantagens económicas) no espaço global das mediocridades normalizadas. Um povo que não ama, não protege, ou não promove a sua Literatura (ou a Música, a Pintura, a Dança, o Património, a História) se não está morto está, certamente, moribundo. Sábio aviso de mestre Almeida Garrett. A Literatura, aquela que ficcionalmente nos conta (e há, por muito que a tentem apagar, uma história recente que a ficção portuguesa precisa de contar de forma escorreita e asseada, para que se não dilua no cortejo infamante de todos os revisionismos oportunistas que por aí pululam, tendentes a criar o caldo de cultura necessário à desforra que almejam), precisa de se afirmar, de se mostrar, de se impor. Depois dos desvarios que uma escrita soporífera inculcou no nosso tecido editorial (território escasso, como sabemos, onde a iliteracia campeia ufana, sector vivendo à míngua e em permanente crise e por isso permeável a todas as golpadas e aos mais inconfessáveis desígnios), uma escrita mais séria, mais reflexiva e esteticamente sedutora, começa a emergir e a fixar públicos. Neste panorama promissor, é justo salientar o nome de José Casanova que à ficção portuguesa trouxe, em três livros incontornáveis, a memória do país que fomos entre os anos 30 e meados dos anos 70 do século 20, mas igualmente José Saramago com esse brilhante romance que é Levantado do Chão., sinfonia maior da nossa escrita contemporânea. Os anos que se seguiram à revolução de Abril de 1974, trouxeram, para além da liberdade democrática, de uma reformulação nas relações de trabalho, das melhorias sensíveis das condições económicas e do geral acesso à cultura e ao ensino, transformações profundas na organização estrutural das relações entre géneros: a mulher emancipava-se, competia com o homem no mundo do trabalho, começava a frequentar, e a afirmar-se, em número cada vez mais crescente, no território académico. Saíamos de uma sociedade patriarcal, opressora, fortemente dominada pelo homem nos aspectos mais elementares da vida quotidiana, para a súbita descoberta do outro, da identidade e da singularidade do outro – o homem descobria, com alguma perplexidade inicial, que a sua companheira não era apenas a fada do lar que décadas de obscurantismo salazarista haviam formatado nos imaginários comportamentais dos portugueses, mas era um ser autónomo, criativo, exigente e insubmisso. A esposa da Carta Guia de Casados de D. Francisco Manuel de Melo, cujos contornos essenciais permaneceram imutáveis na sociedade portuguesa desde 1650 (data da publicação do texto de Francisco Manuel de Melo), até aos anos 1960, (1) desmoronara-se no tempo veloz de uma (1) – Nos anos 1940, sob a égide dos conceitos de Família de Salazar, o proto-fascista Luís Carreira, publica o livro Namoro e Casamento, autentico Guia de Casados do Estado Novo. década. Entre nós, e por força de uma opressão vigilante, atenta aos mais ínfimos sinais dos auto denominados bons costumes e fidelidade conjugais, fidelidade que os decantados “bons costumes” apenas impunham à metade mais frágil, as primeiras manifestações públicas do feminismo iniciam-se, de forma corajosa, com Maria Lamas nas páginas da revista Modas e Bordados e nesse estudo fundamental que é Mulheres do Meu País, alcançando em 1971, com a publicação das Novas Cartas Portuguesas, de Maria Isabel Barreno, Maria Velho da Costa e Maria Teresa Horta, uma maior visibilidade, graças ao mediatismo que as suas autoras conseguiram junto da comunicação social – aproveitando, claro, a fugaz abertura da primavera marcelista. Há escritores que transportam aos ombros – muito para além da argamassa das memórias da vida e do vivido com que estruturam os textos – o peso do social que transparece acutilante na sua escrita. Sartre chamou-lhe engagement, chamar-lhe-ei, para uma mais fácil compreensão, uma escrita comprometida com a história e com o pulsar do seu tempo: uma literatura sem embustes. Mesmo quando o autor, pelo rigor e mestria do seu laboratório literário, consegue elidir essa particularidade, ela está impressa no texto, é indissociável do estilo, do diegético que atravessa a obra. Encontramos este comportamento narrativo nas obras mais recentes de Urbano Tavares Rodrigues, mesmo quando o autor, aparentemente, só nos quer falar das degenerescências comportamentais que atravessam e inquinam a vida nas sociedades contemporâneas: só que essa degenerescência não acontece por acaso, não surge do nada – há razões sociais e políticas que contaminam os comportamentos, que inoculam os vazios, a solidão, o desencanto, a desesperança, a usura: uma espécie de húmus que subterraneamente nos vai tomando por dentro e invade o espaço colectivo. O comprometimento social, esse crítico e arguto olhar sobre o real, não é descoberta dos autores portugueses contemporâneos. Já Fernando Pessoa, pegando pelo lado menos sórdido do modernismo definido por Marinnetti, anunciava que as grandes depressões sociais e políticas são terreno fértil para o aparecimento da grande literatura e que esta, pela sua genialidade poderá influir nos destinos da humanidade. Aparte a sebastianica assumpção pessoana, o certo é que a literatura que denunciou e tomou partido no coro das denúncias dos atropelos dos poderes em relação aos direitos fundamentais da condição humana, foi determinante para influenciar vastas camadas da opinião pública que, a partir de alguns textos fundamentais, começou a olhar criticamente a realidade circundante e a indignar-se de maneira mais consciente e activa. Aconteceu com John Steinbeck, ao inscrever a dor e as feridas que a grande depressão imprimira no tecido social americano, também com John dos Passos, denunciando uma sociedade estruturalmente corrupta e o capitalismo como um sistema decadente arvorado em civilização, na generosidade militante e combativa de Hemingway, Zola, Gorky, Calvino, Morávia, Brecht, os portugueses que protagonizaram a primeira incursão neo-realista, Soeiro Pereira Gomes, Ferreira de Castro, Alves Redol, Manuel da Fonseca. E a geração que, embora solidária com algumas questões suscitadas pelo neo-realismo, se deixaram seduzir pelos movimentos estético-literários emergentes no mundo anglo-saxónico e, sobretudo, em França: José Cardoso Pires, Vergílio Ferreira, Augusto Abelaira, José Saramago, Urbano Tavares Rodrigues e, já nos anos setenta do século XX, a geração que foi à guerra e sofridamente no-la revelou: Modesto Navarro, Lobo Antunes, João de Melo, Fernando Assis Pacheco, Manuel Alegre, Álamo Oliveira e eu próprio. A esta geração que foi à guerra e voltou, depois do exercício catártico de a dizer (e não será estulticia afirmar que essa literatura é já hoje um sub-género literário que cada vez mais se afirma pujante na história recente da nossa ficção, com novos e interessantes títulos recentemente publicados, entre os quais salientamos Diário da Guiné 1968/69, de Mário Beja Santos) ficou-lhe o espaço de uma revolução para reflectir e sobre ela efabular. Poucas gerações como a nossa se poderão regozijar de terem atravessado tão prodigioso período histórico, tendo vivido e sofrido tão extraordinárias e díspares experiências, que vão da mais ultramontana repressão, à censura bacoca, ao sórdido dos anos da guerra, até aos dias absolutos e solares do nosso júbilo libertário. Um manancial único que urge aproveitar e reinventar criativamente. O nosso mais recente cinema começa a reflectir esta realidade que a literatura, pelos constrangimentos conhecidos, tarda em assumir. Modesto Navarro, desde esse cáustico romance do começo do nosso desencanto que é A Meio da Ponte, romance onde o autor assume o retrato triste, por vezes nostálgico, de uma geração que tentou mudar os rumos da história e verifica, angustiada e incrédula, olhando ao espelho o esbranquiçar da gaforina, ou a sua total ausência, que nem a si, ou aos próximos, conseguiu mudar substantivamente. Ora, a angústia que atravessa A Meio da Ponte, muda-se com armas, bagagem e refinamento de processos, para esta nova novela do autor de O Coração da Terra. Modesto Navarro consegue na novela Mulher Desaparecida a Sul, um ritmo consentâneo com o objecto narrado, um eixo de similaridades até então ausentes, ou só a espaços verificáveis na sua escrita. Há uma suspensão nos modos desta fala, uma interioridade sensível, a lenta descida ao âmago das nossas indescobertas feridas interiores. Nesta novela é o homem que arrasta a suprema humilhação de se saber rejeitado, o homem a quem a ruptura fere como um ultraje insuportável, até à violência que o ciúme incendeia. João é o retrato de um tempo insubmisso, vítima, se quisermos, da volatilidade das relações entre homem e mulher, do efémero da paixão, a que a liberdade veio, de forma crua e violenta, tirar a máscara hipócrita que as pretendia eternizar no limbo da paciência, por que Deus é misericordioso e compensa com juros, galáxias celestiais e brancas asas do paraíso quem na terra sofra infernos e ultrajes. Estamos, neste terreno dos afectos, cada vez mais sós e responsáveis únicos pelos nossos actos: daí a angústia sem remissão. João permanece apaixonado por Elisa mas ela já não o ama, precisa de espaço, diz-lhe, um outro espaço onde possa finalmente afirmar-se em plenitude, ser plenamente – estranha e insuportável rebeldia, vinda de uma mulher ainda ontem submissa, ainda ontem partilhando sonhos, dificuldades, um filho, a vida – mas o futuro é o tempo que passa, é o momento único e irrepetível que vivemos, e o amor só é eterno enquanto dura, como escreveu o Vinícius que do amor e da sua efemeridade sabia tanto como de um bom uísque de malte. Maria Lamas, em Mulheres do Meu País, já decifrara esse purgatório das frustrações ocultadas, que Modesto Navarro inscreve neste livro. “Ao debruçar-se sobre a vida doméstica (“oásis onde – segundo Salazar – os filhos de Portugal são formados”), Maria Lamas encontra não o santo equilíbrio de que os salazaristas e outros conservadores faziam o panegírico, mas um sistema fechado sobre si mesmo que tendia à amargura e ao inevitável desgaste dos mais fortes afectos”. (1) É deste purgatório tolhedor que Elisa tenta, em ruptura, escapar. (1) – Maria João Martins – O Paraíso Triste – Pág. 119 - Ed. Vega O triângulo amoroso completa-se com Eduardo, que ama Elisa e a quem ela se entrega mais por necessidade de fuga a um quotidiano sufocante do que por verdadeiramente o amar. Elisa é uma mulher em busca do seu espaço, da sua identidade, do seu lugar: essa busca é obsessiva e não deixa lugar no peito para as amarras da paixão. Por isso, sabedora dessa impossibilidade, Elisa desaparece algures numa praia do sul, ou morreu de intoxicação alimentar – suspensão e dúvida, o leitor que conclua que para isso foi convocado e se fez cúmplice. Com Eduardo regressamos ao imaginário mais impressivo de Modesto Navarro, às suas memórias da terra transmontana, à vila, à oficina, ao espaço dos afectos primordiais. E é no contar as estórias desse espaço, no sensível diegético que as enforma, que esta fala se alarga e ganha asas, é mordente e tocante de clamor e êxtase, como acontece em algumas das melhores páginas de O Coração da Terra. Modesto, para nosso contentamento, traz o coração atravessado dessas memórias e no-las vai vertendo, com parcimónia que roça a timidez, ao longo das páginas da sua já considerável obra. Com esta novela, o autor de Seis Mulheres na Madrugada, regressa à análise das relações dos casais no Portugal pós 25 de Abril de 1974. Modesto Navarro, serve-se de uma estrutura narrativa próxima do policial (género em que o autor se movimenta dextro), para nos falar das relações falhadas (tema já abordado em A Insubmissa) da angústia e dos medos que perpassam este nosso tempo e tocam uma geração que se sente à deriva e desapossada de referentes identitários num país que, depois da esperança e da solidariedade libertária, enfrenta desarmada e confusa a cupidez neo-liberal. Mulher Desaparecida a Sul, é uma novela construída sobre os estilhaços do desencanto e dele o autor, com um despojamento narrativo exemplar, na forma como as elipses se estruturam (há algo de faulkeleriano neste modo de contar) traça um impressivo, nostálgico e arrebatado retrato. Mulher Desaparecida a Sul é, portanto, uma novela vigorosa e sensível, abordando os nossos medos face a um mundo que desaba e do qual não sabemos prever o futuro que virá. A vida e seus inumeráveis segredos. Brilhante começo de uma nova colecção da Cosmos, que se assume como biblioteca onde os autores portugueses de referência poderão encontrar espaço para a publicação de textos que expressem as profundas inquietações deste nosso tempo.
in; Domingos Lobo

terça-feira, 10 de junho de 2008

São os loucos de Lisboa


Parava no café quando eu lá estava
Na voz tinha o talento dos pedintes
Entre um cigarro e outro lá cravava a bica, ao melhor dos seus ouvintes
As mãos e o olhar da mesma cor
Cinzenta como a roupa que trazia
Num gesto que podia ser de amor
Sorria, e ao partir agradecia
São os loucos de Lisboa
Que nos fazem duvidar
A Terra gira ao contrário
E os rios nascem no mar
Um dia numa sala do quarteto
Passou um filme lá do hospital
Onde o esquecido filmado no gueto
Entrava como artista principa
lCompramos a entrada p'ra sessão
Pra ver tal personagem no écran
O rosto maltratado era a razão
De ele não aparecer pela manhã
Mudamos muita vez de calendário
Como o café mudou de freguesia
Deixamos de tributo a quem lá pára
Um louco a fazer-lhe companhia
E sempre a mesma posse o mesmo olhar
De quem não mede os dias que vagueam
Sentado la continua a cravar
Beijinhos as meninas que passeiam.

sexta-feira, 30 de maio de 2008

Aconteceu-me do Alto do Infinito

Aconteceu-me do alto do infinito
Esta vida.
Através de nevoeiros,
Do meu próprio ermo ser fumos primeiros,
Vim ganhando, e través estranhos ritos
De sombra e luz ocasional, e gritos

Vagos ao longe, e assomos passageiros
De saudade incógnita, luzeiros
De divino, este ser fosco e proscrito...
Caiu chuva em passados que fui eu.

Houve planícies de céu baixo e neve
Nalguma cousa de alma do que é meu.
Narrei-me à sombra e não me achei sentido.

Hoje sei-me o deserto onde Deus teve
Outrora a sua capital de olvido...

Fernando Pessoa

terça-feira, 29 de abril de 2008

quinta-feira, 24 de abril de 2008

Trova do Vento que Passa




Pergunto ao vento que passa
notícias do meu país
e o vento cala a desgraçao
vento nada me diz.

Pergunto aos rios que levam
tanto sonho à flor das água
se os rios não me sossegam
levam sonhos deixam mágoas.

Levam sonhos deixam mágoa
sai rios do meu país
minha pátria à flor das águas
para onde vais? Ninguém diz.

Se o verde trevo desfolhas
pede notícias e diz
ao trevo de quatro folhas
que morro por meu país.

Pergunto à gente que passa
por que vai de olhos no chão.
Silêncio é tudo o que tem
quem vive na servidão.

Vi florir os verdes ramos
direitos e ao céu voltados.
E a quem gosta de ter amos
vi sempre os ombros curvados.

E o vento não me diz nada
ninguém diz nada de novo.
Vi minha pátria pregada
nos braços em cruz do povo.

Vi minha pátria na margem
dos rios que vão pró mar
como quem ama a viagem
mas tem sempre de ficar.

Vi navios a partir

(minha pátria à flor das águas)
vi minha pátria florir

(verdes folhas verdes mágoas).
Há quem te queira ignorada

e fale pátria em teu nome.
Eu vi-te crucificadanos braços negros da fome.

E o vento não me diz nada
só o silêncio persiste.
Vi minha pátria parada
à beira de um rio triste.

Ninguém diz nada de novo
se notícias vou pedindo
nas mãos vazias do povo
vi minha pátria florindo.

E a noite cresce por dentro
dos homens do meu país.
Peço notícias ao vento
e o vento nada me diz.

Mas há sempre uma candeia
dentro da própria desgraça
há sempre alguém que semeia
canções no vento que passa.

Mesmo na noite mais triste
em tempo de servidão
há sempre alguém que resiste
há sempre alguém que diz não.

poema de Manuel Alegre
imagen de Antonio Almeida Felizes

segunda-feira, 14 de abril de 2008

A Europa, obra de paz


A Europa, obra de paz e de reconciliação, nunca tentou afirmar a sua posição no mundo, depois da segunda Guerra Mundial, a não ser através da exemplaridade dos seus sistemas de arbitragem.
À medida que o seu peso económico e comercial foi crescendo, a União Europeia passou a ser solicitada no sentido de desempenhar o seu papel de potência mediadora e de força de equilíbrio no mundo.

sexta-feira, 11 de abril de 2008

11 de Abril de 1918, La Lys - 90 Anos depois


Batalha de La Lys, cemitério de Richebourg em França



quinta-feira, 10 de abril de 2008

Ai se mestre Gil, cá viesse

A formiga no carreiro
Vinha em sentido cantrário
Caiu ao Tejo
Ao pé dum septuagenário
Larpou trepou às tábuas
Que flutuavam nas àguas
E de cima duma delas
Virou-se prò formigueiro
Mudem de rumo
Já lá vem outro carreiro
A formiga no carreiro
Vinha em sentido diferente
Caiu à rua
No meio de toda a gente
Buliu buliu abriu as gâmbias
Para trepar às varandas
E de cima duma delas
Virou-se prò formigueiro
Mudem de rumo
Já lá vem outro carreiro
A formiga no carreiro
Andava a roda da vida
Caiu em cima
Duma espinhela caída
Furou furou à brava
Numa cova que ali estava
E de cima duma delas
Virou-se prò formigueiro
Mudem de rumo
Já lá vem outro carreiro

Poema de Zeca Afonso

domingo, 6 de abril de 2008

Vergonha


O último relatório da ONU diz que 2% da população do mundo detém 50% da riqueza do planeta TERRA.


"Aquele que não conhece a verdade é simplesmente um ignorante, mas aquele que a conhece e diz que é mentira, este é um criminoso"
Bertold Brecht

terça-feira, 1 de abril de 2008

quinta-feira, 27 de março de 2008

john wolf


O Livro " Portugal Traduzido" será sem dúvida um livro de excelência que a as Edições Cosmos, apresentarão no dia 9 de maio de 2008 às 21 horas, na Tertúlia " Poiso do Besouro" na Chamusca.
Acção critica ao nosso país visto por um Norte Americano radicado no nosso país à mais de uma década.
Sessão de apresentação a não perder

terça-feira, 25 de março de 2008

Congresso Internacional Romance Antigo

Marília P. Futre Pinheiro

Chair of the Organizing Committee of ICAN IV - International Conference on the Ancient Novel that will be held from 21 to 26 July 2008 in Lisbon, Portugal


Marília P. Futre Pinheiro - Edições Cosmos,
Editor-in-chief, "Labirintos de Eros"
(Portuguese translations of the Ancient Greek Novels), Lisboa.

terça-feira, 18 de março de 2008

A passagem





A Velhice é isto:


ou se chora sem motivo,


ou os olhos ficam secos de lucidez.




Miguel Torga

segunda-feira, 17 de março de 2008

Liberdade




Liberdade
Ai que prazer
Não cumprir um dever,
Ter um livro para ler
E não o fazer!
Ler é maçada,
Estudar é nada.
O sol doira
Sem literatura.
O rio corre, bem ou mal,
Sem edição original.
E a brisa, essa,
De tão naturalmente matinal,
Como tem tempo não tem pressa...
Livros são papéis pintados com tinta.
Estudar é uma coisa em que está indistinta
A distinção entre nada e coisa nenhuma.
Quanto é melhor, quando há bruma,
Esperar por D. Sebastião,
Quer venha ou não!
Grande é a poesia, a bondade e as danças...
Mas o melhor do mundo são as crianças,
Flores, música, o luar, e o sol, que peca
Só quando, em vez de criar, seca.
O mais do que isto
É Jesus Cristo,
Que não sabia nada de finanças
Nem consta que tivesse biblioteca...



Fernando Pessoa

domingo, 16 de março de 2008

PALAVRAS DO REI SALOMÃO


Existe um tempo próprio para tudo,

E há uma época para cada coisa debaixo do céu:
Um tempo para nascer e um tempo para morrer;

Um tempo para plantar e um tempo para colher o que se semeou;
Um tempo para matar, um tempo para curar as feridas;

Um tempo para destruir e outro para reconstruir;
Um tempo para chorar e um tempo para rir;

Um tempo para se lamentar e outro para dançar de alegria;
Um tempo para espalhar pedras, um tempo para juntá-las;

Um tempo para abraçar, e um tempo para afastar-se;
Um tempo para procurar e outro para perder;

Um tempo para armazenar e um para distribuir;
Um tempo para rasgar e outro para coser;

Um tempo para estar calado e outro tempo para falar;
Um tempo para amar, e um tempo para odiar;

Um tempo para a guerra, e um tempo para a paz.

quarta-feira, 12 de março de 2008

Versos escritos n’água

Os poucos versos que aí vão,
Em lugar de outros é que os ponho.
Tu que me lês, deixo ao teu sonho
Imaginar como serão.
Neles porás tua tristeza
Ou bem teu júbilo, e, talvez,
Lhes acharás, tu que me lês,
Alguma sombra de beleza...
Quem os ouviu não os amou.
Meus pobres versos comovidos!
Por isso fiquem esquecidos
Onde o mau vento os atirou.


Dorival Caymmi

terça-feira, 11 de março de 2008

Fascinação



Os sonhos mais lindos sonhei
De quimeras mil um castelo ergui
E no teu olhar
Tonto de emoção
Com sofreguidão
Mil venturas previ
O teu corpo é luz, sedução
Poema divino cheio de esplendor
Teu sorriso prende, inebria, entontece
És fascinação, amor

F.d. Marchetti - M. De Feraudy - Armando Louzada

domingo, 9 de março de 2008

Beleza, solidão e morte


Esta fotografia de John Moore, da Getty Images, apareceu na capa do New York Times no Memorial Day – dia que os americanos dedicam a lembrar os entes queridos que morreram em combate. Tirou-a na secção 60 do Arlington National Cemetery a 27 de Maio deste ano. Esta é uma secção do cemitério preenchida apenas pelas campas dos que tombaram no Iraque e no Afeganistão.A rapariga da foto chama-se Mary MacHugh e encontrava-se junto à campa do noivo, o sargento James J. Regan, 26 anos, morto a 9 de Fevereiro quando um engenho explosivo detonou perto do carro-patrulha em que seguia, algures numa estrada no norte do Iraque.John Moore, o fotógrafo, esteve durante mais de cinco anos em zonas de combate, tanto no Iraque como no Afeganistão. «Vi o pior que alguém pode ver: o ódio, a raiva, a desolação e o desespero, muitas mortes, tanta destruição» e, por fim, referindo-se a esta foto, «uma jovem rapariga chorando o seu amor perdido para sempre».A foto correu mundo: capta muito bem a dor da perda, a destruição dos sonhos e dos planos de uma jovem pela infame estupidez da guerra. A forma como ela se encontra sozinha no cemitério, rodeada de dezenas de tumbas de mármore, lembra-nos a solidão que todos os seres vivos devem sentir perante a morte. Descalçou os sapatos, deitando-se sobre a campa do noivo como se o quisesse abraçar – é um momento muito íntimo.Há quem considere que o sucesso desta fotografia tem a ver com a sua carga erótica. Jerry Monaco, uma das estrelas do Live Journal, descreve no seu blogue o poder de manipulação desta imagem: «Se em vez de uma jovem bonita, o fotógrafo tivesse captado uma mãe gorda de meia-idade deitada com os pés descalços chorando a perda do filho, a foto não teria metade do impacto e provavelmente nem sequer chegaria à capa do New York Times». Monaco considera esta foto um exemplo do que chama «luto sexualizado». Explica que a foto segue a tendência de um certo tipo de arte do século passado (pinturas e esculturas) nas quais nos é apresentada uma ligação entre morte e beleza.Haverá realmente uma carga sexual neste foto? Digam de vossa justiça. Não lhe vemos a cara, é verdade – o que significa que é a nossa imaginação que se encarrega de lhe dar um rosto. Temos então uma mulher jovem, elegante, frágil, exposta. Não inspirará um certo tipo de ternura lânguida?

sábado, 8 de março de 2008

Garrido Publicidade





A organização agradece a participação de todos os atletas presentes e a colaboração do União Desportiva de Chamusca, das Câmaras Municipais da Chamusca e de Abrantes, dos Bombeiros Municipais de Abrantes, do Restaurante/esplanada See You, do Restaurante o Poizo do Bezouro, da Gráfica Garrido Publicidade e a colaboração do Armando Malaquias, Pinto e Carlos Manso
Fotos Pedro Quintela

sexta-feira, 7 de março de 2008

Para ser grande, sê inteiro


Para ser grande, sê inteiro: nada
Teu exagera ou exclui.
Sê todo em cada coisa.

Põe quanto és
No mínimo que fazes.
Assim em cada lago a lua toda
Brilha, porque alta vive



Poema de Ricardo Reis
Foto " Paz no Vietnam "

quinta-feira, 6 de março de 2008

Se, depois de eu morrer...

Se, depois de eu morrer,
quiserem escrever a minha biografia,
Não há nada mais simples.
Tem só duas datas ...a da minha nascença e a da minha morte.
Entre uma e outra todos os dias são meus.
Sou fácil de definir.
Vi como um danado.
Amei as coisas sem sentimentalidade nenhuma.
Nunca tive um desejo que não pudesse realizar, porque nunca ceguei.
Mesmo ouvir nunca foi para mim senão um acompanhamento de ver.
Compreendi que as coisas são reais e todas diferentes umas das outras;
Compreendi isto com os olhos, nunca com o pensamento.
Compreender isto com o pensamento seria achá-las todas iguais.
Um dia deu-me o sono como a qualquer criança.
Fechei os olhos e dormi.
Além disso fui o único poeta da Natureza.


Alberto Caeiro

quarta-feira, 5 de março de 2008


Discurso de Martin Luther King , em 28 de Agosto de 1963.Audio-Linkamericanrhetoric (Podem ler este post e ouvir o discurso de Martin Luther King)"Eu estou contente em unir-me com vocês no dia que entrará para a história como a maior demonstração pela liberdade na história de nossa nação. Cem anos atrás, um grande americano, na qual estamos sob sua simbólica sombra, assinou a Proclamação de Emancipação. Esse importante decreto veio como um grande farol de esperança para milhões de escravos negros que tinham murchados nas chamas da injustiça. Ele veio como uma alvorada para terminar a longa noite de seus cativeiros. Mas cem anos depois, o Negro ainda não é livre. Cem anos depois, a vida do Negro ainda é tristemente inválida pelas algemas da segregação e as cadeias de discriminação. Cem anos depois, o Negro vive numa ilha só de pobreza no meio de um vasto oceano de prosperidade material. Cem anos depois, o Negro ainda adoece nos cantos da sociedade americana e encontram-se exilados na sua própria terra.Assim, nós viemos aqui hoje para dramatizar a sua vergonhosa condição.De certo modo, nós viemos à capital de nossa nação para trocar um cheque. Quando os arquitectos de nossa república escreveram as magníficas palavras da Constituição e a Declaração da Independência, eles estavam assinando uma nota promissória para a qual todo americano seria seu herdeiro. Esta nota era uma promessa que todos os homens, sim, os homens negros, como também os homens brancos, teriam garantidos os direitos inalienáveis de vida, liberdade e a busca da felicidade. Hoje é óbvio que aquela América não apresentou esta nota promissória. Em vez de honrar esta obrigação sagrada, a América deu para o povo negro um cheque sem fundo, um cheque que voltou marcado com "fundos insuficientes".Mas nós nos recusamos a acreditar que o banco da justiça é falível. Nós nos recusamos a acreditar que há capitais insuficientes de oportunidade nesta nação. Assim nós viemos trocar este cheque, um cheque que nos dará o direito de reclamar as riquezas de liberdade e a segurança da justiça. Nós também viemos para recordar à América dessa cruel urgência. Este não é o momento para descansar no luxo refrescante. Agora é o tempo para transformar em realidade as promessas de democracia. Agora é o tempo para subir do vale das trevas da segregação ao caminho iluminado pelo sol da justiça racial. Agora é o tempo para erguer nossa nação das areias movediças da injustiça racial para a pedra sólida da fraternidade. Agora é o tempo para fazer da justiça uma realidade para todos os filhos de Deus. Seria fatal para a nação negligenciar a urgência desse momento. Este Verão sufocante do legítimo descontentamento dos Negros não passará até termos um renovador Outono de liberdade e igualdade. Este ano de 1963 não é um fim, mas um começo. Esses que esperam que o Negro agora estará contente, terão um violento despertar se a nação votar aos negócios de sempre.Mas há algo que eu tenho que dizer ao meu povo que se dirige ao portal que conduz ao palácio da justiça. No processo de conquistar nosso legítimo direito, nós não devemos ser culpados de acções de injustiças. Não vamos satisfazer a nossa sede de liberdade bebendo da chávena da amargura e do ódio. Nós sempre temos que conduzir a nossa luta num alto nível de dignidade e disciplina. Nós não devemos permitir que nosso criativo protesto se degenere em violência física. Novamente e novamente nós temos que subir às majestosas alturas da reunião da força física com a força de alma. Nossa nova e maravilhosa combatividade mostrou à comunidade negra que não devemos ter uma desconfiança para com todas as pessoas brancas, para muitos de nossos irmãos brancos, como comprovamos pela presença deles aqui hoje, vieram entender que o destino deles é amarrado ao nosso destino. Eles vieram perceber que a liberdade deles é ligada indissoluvelmente à nossa liberdade. Nós não podemos caminhar só.E como nós caminhamos, nós temos que fazer a promessa que nós sempre marcharemos à frente. Nós não podemos retroceder. Há esses que estão perguntando para os devotos dos direitos civis, "Quando vocês estarão satisfeitos?"Nós nunca estaremos satisfeitos enquanto o Negro for vítima dos horrores indizíveis da brutalidade policial. Nós nunca estaremos satisfeitos enquanto nossos corpos, pesados com a fadiga da viagem, não poderem ter hospedagem nos motéis das estradas e os hotéis das cidades. Nós não estaremos satisfeitos enquanto um Negro não puder votar no Mississipi e um Negro em Nova Iorque acreditar que ele não tem motivo para votar. Não, não, nós não estamos satisfeitos e nós não estaremos satisfeitos até que a justiça e a rectidão rolem abaixo como águas de uma poderosa corrente.Eu não esqueci que alguns de você vieram até aqui após grandes testes e sofrimentos. Alguns de você vieram recentemente de celas estreitas das prisões. Alguns de vocês vieram de áreas onde sua busca pela liberdade lhe deixaram marcas pelas tempestades das perseguições e pelos ventos de brutalidade policial. Você são o veteranos do sofrimento. Continuem trabalhando com a fé que sofrimento imerecido é redentor. Voltem para o Mississippi, voltem para o Alabama, voltem para a Carolina do Sul, voltem para a Geórgia, voltem para Louisiana, voltem para as ruas sujas e guetos de nossas cidades do norte, sabendo que de alguma maneira esta situação pode e será mudada. Não se deixe caiar no vale de desespero.Eu digo a vocês hoje, meus amigos, que embora nós enfrentemos as dificuldades de hoje e amanhã. Eu ainda tenho um sonho. É um sonho profundamente enraizado no sonho americano.Eu tenho um sonho que um dia esta nação se levantará e viverá o verdadeiro significado de sua crença - nós celebraremos estas verdades e elas serão claras para todos, que os homens são criados iguais.Eu tenho um sonho que um dia nas colinas vermelhas da Geórgia os filhos dos descendentes de escravos e os filhos dos descendentes dos donos de escravos poderão se sentar junto à mesa da fraternidade.Eu tenho um sonho que um dia, até mesmo no estado de Mississippi, um estado que transpira com o calor da injustiça, que transpira com o calor de opressão, será transformado em um oásis de liberdade e justiça.Eu tenho um sonho que minhas quatro pequenas crianças vão um dia viver em uma nação onde elas não serão julgadas pela cor da pele, mas pelo conteúdo de seu caráter. Eu tenho um sonho hoje!Eu tenho um sonho que um dia, no Alabama, com seus racistas malignos, com seu governador que tem os lábios gotejando palavras de intervenção e negação; nesse justo dia no Alabama meninos negros e meninas negras poderão unir as mãos com meninos brancos e meninas brancas como irmãs e irmãos.Eu tenho um sonho hoje!Eu tenho um sonho que um dia todo vale será exaltado, e todas as colinas e montanhas virão abaixo, os lugares ásperos serão aplainados e os lugares tortuosos serão endireitados e a glória do Senhor será revelada e toda a carne estará junta.Esta é nossa esperança. Esta é a fé com que regressarei para o Sul. Com esta fé nós poderemos cortar da montanha do desespero uma pedra de esperança. Com esta fé nós poderemos transformar as discórdias estridentes de nossa nação em uma bela sinfonia de fraternidade. Com esta fé nós poderemos trabalhar juntos, rezar juntos, lutar juntos, ir presos juntos, defender liberdade juntos, e quem sabe nós seremos um dia livre. Este será o dia, este será o dia quando todas as crianças de Deus poderão cantar com um novo significado.Meu país, doce terra de liberdade, eu te canto. Terra onde meus pais morreram, terra do orgulho dos peregrinos, De qualquer lado da montanha, ouço o sino da liberdade!"E se a América é uma grande nação, isto tem que se tornar verdadeiro. E assim ouvirei o sino da liberdade no extraordinário topo da montanha de New Hampshire. Ouvirei o sino da liberdade nas poderosas montanhas de Nova York. Ouvirei o sino da liberdade nos Engrandecidos Alleghenies da Pennsylvania. Ouvirei o sino da liberdade nas montanhas cobertas de neve Rocky do Colorado. Ouvirei o sino da liberdade nas ladeiras curvas da Califórnia.Mas não é só isso. Ouvirei o sino da liberdade na Montanha de Pedra da Geórgia. Ouvirei o sino da liberdade nas Montanhas do Tennessee. Ouvirei o sino da liberdade em todas as colinas do Mississipi. Em todas as montanhas, ouviu o sino da liberdade.E quando isto acontecer, quando nós permitimos o sino da liberdade soar, quando nós deixarmos ele soar em toda moradia e todo vilarejo, em todo estado e em toda cidade, nós poderemos acelerar aquele dia quando todas as crianças de Deus, homens pretos e homens brancos, judeus e gentios, protestantes e católicos, poderão unir mãos e cantar nas palavras do velho espírito negro:Livre afinal, livre afinal.Agradeço ao Deus todo-poderoso, nós somos livres afinal."

terça-feira, 4 de março de 2008

Declaração Universal dos Direitos Humanos

Foi no dia 10 de Dezembro de 1948, que a Assembleia Geral das Nações Unidas, reunida em Paris aprovou a Declaração Universal dos Direitos Humanos. Também, neste dia mas em 1984 a Assembleia Geral da ONU, adoptou a Convenção das Nações Unidas, proibindo a tortura. No dia em que estes direitos deixarem de ser violados, a Humanidade dará um salto sem precedentes em toda a nossa História. Nunca é demais divulgar a Declaração Universal dos Direitos Humanos
Artigo 1º.Liberdade e igualdade de todos os seres humanos.
Artigo 2º.Não discriminação.
Artigo 3º.Direito à vida.
Artigo4º.Poibição de escravatura.
Artigo 5º.Proibição de tortura.
Artigo 6º.Direito à personalidade jurídica.
Artigo 7º.Igualdade perante a lei.
Artigo8º.Direito a recurso efectivo perante jurisdições nacionais.
Artigo 9º.Proibição de prisão, detenção ou exílio arbitrários.
Artigo 10º.Direito a ser julgado num tribunal independente.
Artigo 11º. nº1:Presunção de inocência até prova em contrário.
nº2:Não retroactividade da lei penal.
Artigo 12º.Direito à vida privada, familiar e protecção de correspondência.
Artigo 13º. nº1:Liberdade de circulação.
nº2:Direito de sair e entrar em qualquer país.
Artigo 14º.Direito de requerer e receber asilo.
Artigo 15º.Direito à nacionalidade.Artigo 16º.Direito de se casar e constituir família.Artigo 17º. nº1:Direito de propiedade.
nº2:Proibição da privação arbitrária da propiedade.
Artigo 18º.Liberdade de pensamento,consciência e religião.
Artigo 19º.Liberdade de expressão e opinião.
Artigo 20º.Liberdade de reunião e associação.
Artigo 21º. nº1:Direito de participação nos assuntos públicos do seu país.
nº2:Igualdade de acesso a funções de natureza pública no seu país.
nº3:Direito a sufrágio directo e universal e direito ao voto secreto.
Artigo 22º.Direito à segurança social.
Artigo 23º. nº1:Direito ao trabalho.
nº2:Direito a salário igual para trabalho igual.
nº3:Direito a remuneração suficiente.
nº4:Direito à constituição e filiação em sindicatos.
Artigo 24º.Direito a lazer,repouso e tempos livres.
Artigo 25º. nº1:Direito a um nível de vida suficiente.
nº2:Protecção especial da maternidade e infância.
Artigo 26º. nº1:Direito à educação,princípios da gratuitidade e obrigatoriedade do ensino Básico, acesso generalizado ao ensino técnico e profissional e igualdade de acesso ao ensino superior.
nº2:A educaçao deve favorecer o desenvolvimento da personalidade,tolerância, compreensão mútua e amizade entre os povos.
nº3:Direito dos pais escolherem a educação a dar aos seus filhos.
Artigo 27º. nº1:Direito de participar na vida cultural e de gozar os frutos do progresso científico.nº2:Protecção dos direitos de autor.
Artigo 28º.Direito a que existam condições permitindo a plena aplicação dos direitos enunciados na Declaração Universal dos Direitos Humanos.
Artigo 29º. nº1:Princípio de que o indivíduo tem deveres para com a comunidade.
nº2:As únicas limitações ao exercício dos direitos devem ser previstas por lei,com vista a satisfazer exigências da moral,de ordem pública e de bem-estar geral.
nº3:Os direitos da Declaração Universal dos Direitos Humanos não podem ser exercidos contrariamente aos fins e princípios da Carta das Nações Unidas.
Artigo 30º.Nenhuma interpretação da Declaração Universal dos Direitos Humanos pode ligitimar actividades que visem a aniquilação dos direitos e liberdades nela consagrados.

segunda-feira, 3 de março de 2008

Auschwitz


O avanço dos Aliados em duas frentes, ocidental e oriental e o colapso da economia do Reich parecem ter enlouquecido ainda mais os líderes nazis. O extermínio converteu-se nas palavras do próprio Himmler, numa "necessidade imperiosa, nos numerosos campos de concentração. Os métodos usados até então eram baseados no pressuposto de que o terror era a melhor forma de negar a personalidade do individuo e de o manipular.
A partir de então com os campos em risco de cair em mãos inimigas, a morte quantitativa substitui o principio do castigo.Mais do que castigar urgia exterminar.Em 27 de Janeiro de 1945, ( entretanto institucionalizado Dia da Memória em diversos países ocidentais) o exército soviético liberta o campo da morte e encontra perto de três mil homens e mulheres escanzelados, pesando entre 23 e 35 kg.Auschwitz, símbolo do Mal para todos os homens de boa vontade, têm suscitado as mais diversas paixões desde da sua libertação.
Sectores da extrema-direita pretenderam lançar o boato de que a "solução final nunca existiu".Os soviéticos ofereceram-lhes, aliás, o pretexto de bandeja, ao propagandearem que em Auschwitz tinham sido mortos "quatro milhões de antifascistas", ou seja mais que duplicaram o número e omitindo o facto de 90 por cento das vítimas serem judeus apolíticos.
É bom para a Humanidade que o complexo de Auschwitz-Birkenau , permaneça de pé.
Não como um exorcismo. Não como um símbolo do mal.
Antes como um inestimável suporte para a breve memória humana.
Para que não volte a repetir-se.

domingo, 2 de março de 2008

Objectivos da União Européia


Promover a unidade política e económica da Europa;
Melhorar as condições de vida e de trabalho dos cidadãos europeus;
Melhorar as condições de livre comércio entre os países membros;
Reduzir as desigualdades sociais e económicas entre as regiões;
Fomentar o desenvolvimento económico dos países em fase de crescimento;
Proporcionar um ambiente de paz, harmonia e equilíbrio na Europa.

sábado, 1 de março de 2008

Cada um


Cada um cumpre o destino que lhe cumpre,
E deseja o destino que deseja;
Nem cumpre o que deseja,
Nem deseja o que cumpre.


Como as pedras na orla dos canteiros
O Fado nos dispõe, e ali ficamos;
Que a Sorte nos fez postos
Onde houvemos de sê-lo.

Não tenhamos melhor conhecimento
Do que nos coube que de que nos coube.
Cumpramos o que somos.
Nada mais nos é dado.


Poema Ricardo Reis
Óleo de Polo Gibert

quinta-feira, 28 de fevereiro de 2008

Alegria, Alegria

Caminhando contra o vento
Sem lenço e sem documento
No sol de quase dezembro
Eu vou…
O sol se reparte em crimes
Espaçonaves, guerrilhas
Em cardinales bonitas
Eu vou…
Em caras de presidentes
Em grandes beijos de amor
Em dentes, pernas, bandeiras
Bomba e Brigitte Bardot…
O sol nas bancas de revista
Me enche de alegria e preguiça
Quem lê tanta notícia
Eu vou…
Por entre fotos e nomes
Os olhos cheios de cores
O peito cheio de amores vãos
Eu vou
Por que não, por que não…
Ela pensa em casamento
E eu nunca mais fui à escola
Sem lenço e sem documento,
Eu vou…
Eu tomo uma coca-cola
Ela pensa em casamento
E uma canção me consola
Eu vou…
Por entre fotos e nomes
Sem livros e sem fuzil
Sem fome, sem telefone
No coração do Brasil…
Ela nem sabe até pensei
Em cantar na televisão
O sol é tão bonito
Eu vou…
Sem lenço, sem documento
Nada no bolso ou nas mãos
Eu quero seguir vivendo, amor
Eu vou…
Por que não, por que não…
Por que não, por que não…
Por que não, por que não…
Por que não, por que não…

Caetano Veloso

terça-feira, 26 de fevereiro de 2008

Fernando Pessoa


"Segue o teu destino,
Rega as tuas plantas,
Ama as tuas rosas.
O resto é a sombra
De árvores alheias.
A realidade
Sempre é mais ou menos
Do que nós queremos.
Só nós somos sempre
Iguais a nós-próprios.
Suave é viver só.
Grande e nobre é sempre
Viver simplesmente.
Deixa a dor nas aras
Como ex-voto aos deuses.
Vê de longe a vida.
Nunca a interrogues.
Ela nada pode dizer-te.
A resposta está além dos deuses.
Mas serenamente imita o Olimpo
No teu coração.
Os deuses são deuses
Porque não se pensam."

"Ricardo Reis, 1-7-1916

sábado, 23 de fevereiro de 2008

Poema de Fernando Pessoa:

"O que há em mim é sobretudo cansaço

-Não disto nem daquilo,

Nem sequer de tudo ou de nada

- Cansaço assim mesmo, ele mesmo,

Cansaço.

A subtileza das sensações inuteis

As paixões violentas por coisa nenhuma,

Os amores intensos por o suposto em alguém,

Essas coisas todas

- Essas e o que falta nelas eternamente

-;Tudo isso faz um cansaço,

Este cansaço,Cansaço."

quinta-feira, 21 de fevereiro de 2008

Emoções


Quando eu estou aqui,
Eu vivo esse momento lindo
Olhando pra você
E as mesmas emoções sentindo

São tantas já vividas
São momentos que eu não esqueci
Detalhes de uma vida
Histórias que eu contei aqui

Amigos eu ganhei
Saudades eu senti, partindo
E às vezes eu deixei
Você me ver chorar, sorrindo

Sei tudo que o amor
É capaz de me dar
Eu sei já sofri
Mas não deixo de amar

Se chorei
Ou se sorri
O importante
É que emoções eu vivi

São tantas já vividas
São momentos que eu não esqueci
Detalhes de uma vida
Histórias que eu contei aqui

Mas eu estou aqui
Vivendo esse momento lindo
De frente pra você
E as emoções se repetindo

Em paz com a vida
E o que ela me traz
Na fé que me faz
Optimista demais

Se chorei
Ou se sorri
O importante
É que emoções eu vivi

Se chorei
Ou se sorri
O importante
É que emoções eu vivi


Roberto Carlos - Erasmo Carlos
Fotografia de Andreas H. Bitesnich

quarta-feira, 20 de fevereiro de 2008

Tratado de Lisboa

O Lançamento do livro "O Tratado de Lisboa" de autoria de Assunção Esteves e de Noémia Pizarro,
é já no próximo S´sbado 23 de Fevereiro às 18 horas na Fnac-Colombo em Lisboa

terça-feira, 19 de fevereiro de 2008

Portugal ????




Qual a origem da palavra portugal?


E da nossa Língua Portuguesa?


Como se diz portugal noutras línguas?


Qual é a história da laranja?


Porque é que é que somos o País das Laranjas?


E que ligação tem a palavra portugal com a palavra laranja?



Já alguma vez se questionaram sobre a origem da palavra Portugal? Para quem souber um pouco da história do nosso país deve saber também que a palavra portugal, que surge no séc X, tem origem no latim portucale cuja origem remota ao séc. V.Mas e Portucale, donde vem? Qual o seu significado? Pois bem, dividindo a palavra Portucale temos Portus Cale que significa o Porto de Cale, sendo Cale um povoado, do que hoje sabemos ser a cidade do Porto, mais propriamente (aparentemente) situado junto a Sé Catedral. Mais tarde (séc VII), para evitar confusões entre cidade e reino, dá-se a simplificação do nome da cidade para Portus (Porto). Por sua vez Cale (mais tarde Gal) vem a palavra Calécia (Gallaecia - hoje Galiza). A palavra Cale esteve, e está, muito presente na geografia europeia, especialmente em áreas onde previve um substrato linguístico celta, daí denominações como Gália, Gales, Calais, Galatia, Gaia, Galiza ou PortuGal.
E que significa Cale? Aqui as opiniões dividem-se. Uma das teorias mais consistente afirma que Cale tem origem na Deusa mãe dos Celtas Cal-leach, pois segundo o autor[1], era um custume romano da altura nomear os povos conquistados com a denominação dos seus deuses. Uma outra análise do radical Cale no âmbito das línguas célticas associa a palavra a significados como “pedra”, “rochedo” ou “duro”, como alusão às características geológicas da cidade. Há ainda quem defende que Cale tem origem no vocábulo pré-indo-europeu Kala que significa “terra”, “montanha”.
Então e a nossa querida língua, a Língua Portuguesa? A língua portuguesa tem origem indo-europeia, família linguística que engloba a maioria das línguas europeias, actuais e antigas, e o termo indo-europeu[2] corresponde a uma região geográfica que vai da Europa e Irão até a Índia setentrional; são cerca de 450 línguas faladas actualmente por 3 mil milhões de pessoas. A língua portuguesa é ainda, dentro da família indo-europeia, uma língua românica assim como o castelhano, catalão, italiano, francês, romeno entre outros; e, como todos sabemos, desenvolveu-se do Latim falado, trazido pelos romanos no séc III a.C.. No entanto, a Língua Portuguesa apenas passou a ter estatuto oficial em 1290 quando o rei D. Dinis o decretou.O português é primeira língua em Angola, Brasil, Portugal, São Tomé e Príncipe. E é a língua mais usada em Moçambique. A língua portuguesa é também a língua oficial de Cabo Verde e uma das línguas oficiais de Timor-Leste (com o tétum) e Macau (com o chinês). É bastante falado, mas não oficial, em Andorra, Luxemburgo, Namíbia e Paraguai.[2]Aquando da invasão dos árabes da península, o Árabe tornou-se a língua oficial de admnistração das áreas conquistadas. Embora a influência árabe não tenha sido muito relevante, foram introduzidas milhares de palavras que ainda hoje usamos.
E o que significa a palavra portugal noutras línguas? Bem, como todos já sabemos em inglês, francês, espanhol, neerlandês, sueco e alemão (entre outros) “diz-se” Portugal, em italiano “diz-se” Portugallo, em polski (polaco) “diz-se Portugalia, e no Vietnam “diz-se” Cộng hòa Bồ Đào Nha. Nestas línguas Portugal um significado: o nome do país Portugal como é óbvio. Até aqui nada de novo por isso, então vou-vos contar um pouco sobre a história da laranja, o fruto.
A laranja é um fruto da família dos citrinos, produzido pela laranjeira, que foi criado na antiguidade através do cruzamento da tangerina com o pomelo. É uma fruta originária do sudeste asiático, de países como a Índia, Malásia ou o Vietnam e hoje em dia a laranja é um importante negócio para os país do mediterrâneo, assim como em algumas partes do globo como na américa ou no sul de áfrica, etc., sendo que o maior produtor é actualmente o Brasil com uma produção anual a rondar os 18 milhões de toneladas.
Voltando um pouco atrás no tempo… no séc XVI, os portugueses “trouxeram” a laranja para portugal e, assim foram os portugueses que a introduziram na Europa. Não é toa que em alguns casos deparamo-nos com o rótulo: Portugal, o país das laranjas! Por este motivo, e por incrível que pareça, hoje em dia as laranjas são denominadas portuguesas em alguns países europeus! Sim, é no mínimo engraçado. Ora vejamos: em romeno laranja diz-se portocálâ, em búlgaro portokal’, em grego portokáli e em turco portokal. Mas esta associação não se fica pelas línguas europeis.Em farsi (persa), língua oficial de países como o Irão ou o Afeganistão e falado em países como a Arménia, a Geórgia ou o Iraque, a palavra portugal (em farsi: پرتغال - lê-se: porteqal) significa laranja!Em árabe, uma língua falada em cerca de 20 países (países como o Egipto, Líbia, Síria, Argélia, Arábia Saudita, etc.), com aproximadamente 280 milhões de falantes[2] (em todas as suas derivações), a palavra portugal (em árabe: برتقال - lê-se: bortuqal ou burtuqálum) designa também o fruto laranja.
O testemunho de um português numa passagem pelo Irão[3]:“[…] Passeport?, where do you come from?, Portugal!, Orange country!, finalmente soubemos a razão porque quando parávamos e nos perguntavam de onde éramos, respondiam sempre “orange country”, e riam-se. […] A partir deste dia quando nos perguntavam de onde éramos, respondíamos em primeiro lugar: Orange Country e riamos também, depois Portugal era uma gargalhada geral. […]”
Como vemos, a nossa cultura, a nossa língua, a nossa história está recheada de curiosidades. Estas são apenas algumas delas! Portugal é, ao contrário do que muitos fazem questão de negar, um país com uma origem vem diversificada e com várias influências que foram moldando a nossa identidade como uma nação. Por este pedaço de terra à beira-mar plantado já passaram as mais diversas culturas do mundo e mesmo assim Portugal criou-se à sua própria imagem, aproveitando os pontos positivos de todos os que por cá passaram. Ainda hoje, Portugal continua a acolher milhares de estrangeiros que escolheram o nosso país para viver e trabalhar o que, na minha opinião, só enriquece a nossa cultura. Na diferença está o ganho.


by; Blog Miguel Lomelino

segunda-feira, 18 de fevereiro de 2008

Preito de Gratidão


Ao Benemérito filho da minha terra, Dr. João Joaquim Izidro dos Reis.
18 de Fevereiro de 1906,sessão inaugural da Ponte sobre o Tejo entre os Concelhos da Chamusca e Golegã.

...para esta obra estar feita, alguém houve que tanto conseguiu e pode, pela força indomável da sua vontade, pela veemência tanta vez comprovada do seu amor ao povo da Chamusca...
...o seu nome deve estar gravado no coração de todos...a ponte sobre o Tejo, pondo a Chamusca em comunicação fácil com o resto do país determinará uma tão grande riqueza e bem estar, que a palavra empalidece à falta de recursos bastantes para o fazer compreender.
...Quando olho em volta de mim; quando subo a esras encostas e estendo a vista pela grandiosidade do nosso horizonte; quando conteplo a pujança de visa, a rebentar de toda a parte e o encanto da paisagem de toda a parte a enlevar-nos e a prender-nos, eu digo: - Aqui depôz a natureza o seu beijo mais afectuoso; aqui engastou a gema do abençoado torrão da terra portuguesa...
...enquanto houver sobre o Tejo a ponte da Chamusca, cada um dos seus pilares erguerá bem alto em caracteres luminosos, o nome do seu promotor; e os varões dessa ponte, entrelaçando-se, como que formarão a coroa aureoladora d'um renome eterno.

Luís Netto 18 de Fevereiro de 1906