sábado, 27 de março de 2010

100 Anos de República



É ridículo ver os defensores da monarquia e do putativo rei Duarte Pio a defenderem a bandeira que foi hasteada.

Demonstram um desconhecimento confrangedor da História. Façamos então aqui a boa acção diária: Ó meus amigos monárquicos, aquela bandeira que vocês dizem ser "da monarquia" foi a bandeira do reino de Portugal apenas entre 1830 e 1910, usada pela rainha Maria II (1833-1853) e pelos reis Pedro V (1853-1861), Luís (1861-1889), Carlos (1889-1908) e Manuel II (1908-1910)).

Este ramo da casa de Bragança é o chamado ramo de Bragança-Saxe-Coburgo e Gota, do qual NÃO DESCENDE certamente Duarte Pio. Duarte Pio é descendente por via paterna de Miguel I de Portugal, e por via materna de Pedro I (imperador do Brasil, Pedro IV de Portugal). A sua mãe é Maria Francisca de Orleães-Bragança, da casa imperial do Brasil, também chamada de Orleães-Bragança.... Ver mais

Sendo assim Duarte Pio herdeiro dos dois ramos "sobreviventes" da casa de Bragança - o ramo miguelista dos descendentes de Miguel I e o ramo de Orleães-Bragança, a descendência brasileira de Pedro I do Brasil (Pedro IV de Portugal) - pergunto-me: porque iria Duarte Nuno "usar" a bandeira dos seus primos (a tal que existiu entre 1830 e 1930 e que os nossos monárquicos defendem com unhas e dentes)?

Não seria mais lógico, mais coerente, que trouxesse de novo à vida a bandeira do seu trisavô, João VI, e que foi também a bandeira do seu bisavô, Miguel I e do irmão deste, Pedro IV, seu tio-bisavô?

Uma bandeira que reintegrou a esfera armilar, um antigo emblema pessoal de Manuel I, símbolo maior dos Descobrimentos, e onde o escudo volta a ser de ponta redonda, no formato dito PORTUGUÊS e não francês como na bandeira ora enaltecida.

Para quem não sabe do que falo (e serão MUITOS), vejam a bandeira em http://www.tuvalkin.web.pt/terravista/guincho/1421/bandeira/pt_1816.gif

Afinal, a actual bandeira Nacional e a sua esfera armilar têm bem mais a ver com Duarte Pio, e a sua ascendência, do que a bandeira que tanto abanicam, pertença de uma casa real já extinta e esquecida...


Carlos Paula Simões

domingo, 21 de março de 2010

Dia Mundial da Poesia


CHAMUSCA


Chamusca, meu jardim de fantasia,
onde eu cultivo as flores da afeição;
cada recanto lindo é um talhão
que lentamente o Tejo acaricia.
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Subindo ao Pranto a sua casaria
é roupa branca ao sol, por sobre o chão;
bando de aves que em lúcida visão
abrem asas no céu que as delicia.
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Chamusca, minha amada, meiga, terna!
que doce, que amorosa, que materna,
que simples, que suave, que tranquila!
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Chamusca...eu amo-a tanto, que quisera,
até depois de morto - quem m'o dera! -
na terra que me cubra inda senti-la!
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Armando Soares Imaginário

sábado, 13 de março de 2010

Dito em outros mundos

"O facilitismo é inimigo da competência e irmão da corrupção. Combatamo-lo com todas as forças, pois ele gera a degradação dos valores. O saber, a elevação, a sublimação da existência e dos gestos, o culto do humanismo, faz-se com trabalho continuado e aparelhando o espírito para a vida e para a propagação da nobreza dos valores"

in Armindo Gameiro

sexta-feira, 12 de março de 2010

A política do medo


A política do medo
"Em que condições exerce hoje o professor o seu mister de ensinar? Pergunta capital, em cuja resposta vai muito da eficiência da Escola e do valor intelectual e moral do ensino. Posso afirmar, sem receio de exagerar, que essas condições se caracterizam essencialmente assim: deficiência de meios pedagógicos; deficiência de meios materiais da vida do professor; limitação das condições de independência mental dos agentes económicos.O professor hoje, em Portugal, vive com dificuldades de vida e com medo, esse terrível medo que se apoderou da quase totalidade da população portuguesa.
Tenho já o tempo de vida bastante para poder ter observado, durante mais de 20 anos, a evolução duma certa corporação científica, e ter verificado nela a instalação e o alastramento desse processo de destruição progressiva do professor português. E é preciso registar que, a despeito de casos isolados de resistência heróica, esse processo de destruição tem produzido os seus efeitos.A coisa vai mesmo mais longe – a política do medo não atingiu apenas uma determinada camada social ou profissão. Não, essa política foi a todos os sectores da vida nacional e a todos os núcleos de actividade privada e pública, procurando transformar-nos num povo aterrado, reduzido à condição deprimente de passarmos a vida a desconfiar uns dos outros. Mas o que é curioso, nesta questão, é que, ao fim e ao cabo, não se conseguiu apenas que os pequenos tenham medo uns dos outros e dos grandes, ou os indivíduos tenham medo das instituições. O próprio Estado foi vitima do seu jogo e acabou por ser tomado de medo dos cidadãos ..."
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[Bento de Jesus Caraça, in Intervenção feita da Sessão de 30 de Novembro de 1946, realizada pelo Movimento da Unidade Popular, na sala de A Voz do Operário, aliás in Conferências e Outros Escritos, Lisboa, 1978, p. 203 - sublinhados nossos]


Foto: Bento de Jesus Caraça, retirada do blog Ruy Luis Gomes, com a devida vénia