terça-feira, 17 de março de 2009

O Universo

O Universo é feito essencialmente de coisa nenhuma.
Intervalos,
distâncias,
buracos,
porosidade etérea.
Espaço vazio,
em suma.
O resto, é a matéria.
Daí, que este arrepio,
este chamá-lo e tê-lo,
erguê-lo e defrontá-lo,
esta fresta de nada aberta no vazio,
deve ser um intervalo.

António Gedeão

sábado, 14 de março de 2009

O dia da criação

Macho e fêmea os criou.
Génese, 1, 27I


Hoje é sábado, amanhã é domingo
A vida vem em ondas, como o mar
Os bondes andam em cima dos trilhos
E Nosso Senhor Jesus Cristo morreu na cruz para nos salvar.
Hoje é sábado, amanhã é domingo
Não há nada como o tempo para passar
Foi muita bondade de Nosso Senhor Jesus Cristo
Mas por via das dúvidas livrai-nos meu Deus de todo mal.
Hoje é sábado, amanhã é domingo
Amanhã não gosta de ver ninguém bem
Hoje é que é o dia do presente
O dia é sábado.Impossível fugir a essa dura realidade
Neste momento todos os bares estão repletos de homens vazios
Todos os namorados estão de mãos entrelaçadas
Todos os maridos estão funcionando regularmente
Todas as mulheres estão atentas
Porque hoje é sábado.
II
Neste momento há um casamento
Porque hoje é sábado
Há um divórcio e um violamento
Porque hoje é sábado
Há um homem rico que se mata
Porque hoje é sábado
Há um incesto e uma regata
Porque hoje é sábado
Há um espetáculo de gala
Porque hoje é sábado
Há uma mulher que apanha e cala
Porque hoje é sábado
Há um renovar-se de esperanças
Porque hoje é sábado
Há uma profunda discordância
Porque hoje é sábado
Há um sedutor que tomba morto
Porque hoje é sábado
Há um grande espírito-de-porco
Porque hoje é sábado
Há uma mulher que vira homem
Porque hoje é sábado
Há criancinhas que não comem
Porque hoje é sábado
Há um piquenique de políticos
Porque hoje é sábado
Há um grande acréscimo de sífilis
Porque hoje é sábado
Há um ariano e uma mulata
Porque hoje é sábado
Há uma tensão inusitada
Porque hoje é sábado
Há adolescências seminuas
Porque hoje é sábado
Há um vampiro pelas ruas
Porque hoje é sábado
Há um grande aumento no consumo
Porque hoje é sábado
Há um noivo louco de ciúmes
Porque hoje é sábado
Há um garden-party na cadeia
Porque hoje é sábado
Há uma impassível lua cheia
Porque hoje é sábado
Há damas de todas as classes
Porque hoje é sábado
Umas difíceis, outras fáceis
Porque hoje é sábado
Há um beber e um dar sem conta
Porque hoje é sábado
Há uma infeliz que vai de tonta
Porque hoje é sábado
Há um padre passeando à paisana
Porque hoje é sábado
Há um frenesi de dar banana
Porque hoje é sábado
Há a sensação angustiante
Porque hoje é sábado
De uma mulher dentro de um homem
Porque hoje é sábado
Há a comemoração fantástica
Porque hoje é sábado
Da primeira cirurgia plástica
Porque hoje é sábado
E dando os trâmites por findos
Porque hoje é sábado
Há a perspectiva do domingo
Porque hoje é sábado
III
Por todas essas razões deverias ter sido riscado do Livro das Origens, ó Sexto Dia da Criação.
De fato, depois da Ouverture do Fiat e da divisão de luzes e trevas
E depois, da separação das águas, e depois, da fecundação da terra
E depois, da gênese dos peixes e das aves e dos animais da terra
Melhor fora que o Senhor das Esferas tivesse descansado.
Na verdade, o homem não era necessário
Nem tu, mulher, ser vegetal, dona do abismo, que queres como as plantas,
imovelmente e nunca saciada
Tu que carregas no meio de ti o vórtice supremo da paixão.
Mal procedeu o Senhor em não descansar durante os dois últimos dias
Trinta séculos lutou a humanidade pela semana inglesa
Descansasse o Senhor e simplesmente não existiríamos
Seríamos talvez polos infinitamente pequenos de partículas cósmicas em queda invisível na terra.
Não viveríamos da degola dos animais e da asfixia dos peixes
Não seríamos paridos em dor nem suaríamos o pão nosso de cada dia
Não sofreríamos males de amor nem desejaríamos a mulher do próximo
Não teríamos escola, serviço militar, casamento civil, imposto sobre a renda e missa de sétimo dia.
Seria a indizível beleza e harmonia do plano verde das terras e das águas em núpcias
A paz e o poder maior das plantas e dos astros em colóquio
A pureza maior do instinto dos peixes, das aves e dos animais em cópula.
Ao revés, precisamos ser lógicos, freqüentemente dogmáticos
Precisamos encarar o problema das colocações morais e estéticas
Ser sociais, cultivar hábitos, rir sem vontade e até praticar amor sem vontade
Tudo isso porque o Senhor cismou em não descansar no Sexto Dia e sim no Sétimo
E para não ficar com as vastas mãos abanandoResolveu fazer o homem à sua imagem e semelhança
Possivelmente, isto é, muito provavelmente
Porque era sábado.

Vinicius de Moraes

quarta-feira, 11 de março de 2009

A noite do meu bem

Hoje eu quero a rosa mais linda que houver
E a primeira estrela que vier
Para enfeitar a noite do meu bem
Hoje eu quero a paz de criança dormindo
E o abandono das flores se abrindo
Para enfeitar a noite do meu bem
Quero a alegria de um barco voltando
Quero a ternura de mãos se encontrando
Para enfeitar a noite do meu bem
Ah! Eu quero o amor mais profundo
Eu quero toda a beleza do mundo
Para enfeitar a noite do meu bem
Ah! Como este bem demorou a chegar
Eu já nem sei se terei no olhar
Toda a ternura que eu quero lhe dar.


Dolores Duran/Elis Regina

segunda-feira, 9 de março de 2009

Hino Nacional

Data: 1890 (com alterações de 1957)Letra: Henrique Lopes de MendonçaMúsica: Alfredo Keil

Heróis do mar, nobre povo,
Nação valente, imortal,
Levantai hoje de novo
O esplendor de Portugal!
Entre as brumas da memória,
Ó Pátria sente-se a voz
Dos teus egrégios avós,
Que há-de guiar-te à vitória!
Às armas, às armas!
Sobre a terra, sobre o mar,
Às armas, às armas!
Pela Pátria lutar
Contra os canhões marchar, marchar!

Desfralda a invicta Bandeira,
À luz viva do teu céu!
Brade a Europa à terra inteira:
Portugal não pereceu
Beija o solo teu jucundo
O oceano, a rugir d'amor,
E o teu braço vencedor
Deu mundos novos ao Mundo!
Às armas, às armas!
Sobre a terra, sobre o mar,
Às armas, às armas!
Pela Pátria lutar
Contra os canhões marchar, marchar!
Saudai o Sol que desponta
Sobre um ridente porvir;
Seja o eco de uma afronta
O sinal do ressurgir.
Raios dessa aurora forte
São como beijos de mãe,
Que nos guardam, nos sustêm,
Contra as injúrias da sorte.
Às armas, às armas!
Sobre a terra, sobre o mar,
Ás armas, às armas!
Pela Pátria lutar
Contra os canhões marchar, marchar!

Data: 1890 (versão original)[1]Letra: Henrique Lopes de MendonçaMúsica: Alfredo Keil

Herois do mar, nobre povo,
Nação valente, imortal,
Levantai hoje de novo
O esplendor de Portugal!
Entre as brumas da memoria,
Oh patria sente-se a voz
Dos teus egrégios avós,
Que há-de guiar-te à vitória!
Às armas, às armas!
Sobre a terra, sobre o mar,
Às armas, às armas!
Pela patria lutar!
Contra os Bretões marchar, marchar!
Desfralda a invicta bandeira,
À luz viva do teu céo!
Brade a Europa á terra inteira:
Portugal não pereceu!
Beija o teu sólo jucundo
O Oceano, a rugir de amor;
E o teu braço vencedor
Deu mundos novos ao mundo!
Às armas, às armas!
Sobre a terra, sobre o mar,
Às armas, às armas!
Pela patria lutar!
Contra os Bretões marchar!
Saudai o sol que desponta
Sobre um ridente porvir;
Seja o eco de uma afronta
O sinal do resurgir.
Raios dessa aurora forte
São como beijos de mãe,
Que nos guardam, nos sustêm,
Contra as injurias da sorte.
Às armas, às armas!Sobre a terra, sobre o mar,
Às armas, às armas!
Pela patria lutar!
Contra os Bretões marchar!!

domingo, 8 de março de 2009

BOOK TOWNS - COMUNIDADES ONDE QUASE TUDO GIRA À VOLTA DOS LIVROS!


As Book Towns (Comunidades de Livros) são localidades cujas actividades económicas e culturais centram-se quase exclusivamente nos livros. Localizam-se geralmente em pequenas localidades de interesse histórico/patrimonial, cultural ou mesmo paisagístico, concentrando-se nelas um elevado número de livrarias e afins, que comercializam sobretudo livros antigos e/ou em segunda mão.
Hay-on-Wye.
Em 1961 Richard Booth, um graduado de Oxford, teve a ideia de transformar uma histórica povoação rural em gradual declínio, no País de Gales, Hay-on-Wye, numa Comunidade de Livros. Richard Booth comprou algumas casas abandonadas contíguas e aí implantou o maior alfarrábio de todo o Mundo. Apesar da sua localização numa área rural, Hay-on-Wye possui importantes núcleos urbanos relativamente próximos. Ao longo dos anos foi incentivando e auxiliando muitos outros na abertura de novas lojas em Hay-on-Wye. Em jeito de provocação jocosa em 1977 Booth declarou “independente” Hay-on-Wye , publicando as próprias leis “Home Rule for Hay” e (auto)coroou-se Rei dos Livros. Este facto, se na prática não redundou em nenhuma efectiva mudança administrativa, pelo menos teve o condão de projectar Hay-on-Wye pelo mundo fora, nomeadamente nos círculos dos livros e da cultura. Isso revelou-se crucial para o incremento do seu sucesso a um ritmo exponencial, contando hoje com mais de 30 livrarias/alfarrábios de grande dimensão e atingindo um montante anual de turistas superior a meio milhão. Desde 1988 realiza-se anualmente um festival “Hay Literary Festival“, em colaboração com o jornal “The Guardian” que atrai mais de 80 mil pessoas cujo interesse são os livros. Hay-on-Wye afirma-se na actualidade como um burgo já de razoável dimensão e importância Este êxito induziu outras localidades do resto do mundo a reproduzirem o seu modelo. Em especial os anos de 1993 e 1997 revelaram-se muito frutíferos no surgimento de novas Book Towns, respectivamente com cinco (1993) e oito (1997) novas localidades a aderirem a este modelo.
Uma das características destas Booktowns é formarem um catálogo comum das suas obras dos diversos livreiros e alfarrábios de modo a que este assuma maior visibilidade e o acesso às obras por parte dos visitantes/clientes seja facilitado. Com o advento da Internet esse catálogo passou na maior parte dos casos a estar disponível em rede na Web, o que contribuiu para exponenciar de modo significativo o número de clientes.Outra particularidade das Book Towns é o elevado número de evento e iniciativas ligadas ao universo dos livro que são realizadas ao longo do ano, designadamente os seus Festivais de livros
Na Europa têm sido envidados esforços para que cada país possue, pelo menos, uma Book Town. Na actualidade, contabilizam-se nível mundial, cerca de três dezenas de Book Towns, sendo que dezanove delas se localizam na Europa, destacando-se a França que concentra seis delas.As Book Towns representam uma estratégia modelar para o desenvolvimento rural e turístico sustentável, e contribuindo para afixação de pessoas em zonas rurais. A nível dos sectores de turismo e lazer afirma-se como uma formato inovador, granjeando elevado sucesso, e que é cada vez mais reproduzido pelo mundo fora.
Uma parte significativa das Book Towns estão agrupadas na I.O.B. - International Organisation of Book Towns (Organização Internacional de Comunidades de Livros) que congrega no momento 13 povoações. Algumas das Book Towns (ainda) não integram a IOB em face de não cumprirem os rigoroso critérios por ela propostos, ou porque simplesmente não têm essa intenção. A IOB foi fundada como consequência do projecto da União Europeia “EU-project UR 4001 : European Book Town Network

Por fernando vilarinho