sábado, 11 de agosto de 2007

As observações e a razão

" No momento em que se produz a diferenciação das almas individuais, a acção da Religião começa a manifestar-se na protecção da vida humana. Com efeito, não sendo a alma individual mais do que o outro polo do sagrado, o ponto de imputação do pecado religioso, ela própria se torna sagrada e o assassinato afirma-se como um sacrilégio que provoca a cólera dos Deuses, desde que as almas individuais se singularizem suficientemente. O que é paralelo, independentemente de qualquer outro aspecto ( por exemplo, económico ), à espiritualização e à humanização crescente da religião, à passagem do Deus totémico a um Deus pessoal.
Os Deuses tomam a responsabilidade das almas e das vidas individuais, desde que eles próprios se tornem pessoas. Então, o assassinato transforma-se numa revolta contra Deus, que fez o homem à sua imagem; implica um pecado religioso e provoca um castigo vindo de Deus, acompanhado de uma reprovação pública. É no momento do encontro entre Religião e Magia na protecção da vida humana que nasce o direito penal que impede o homicídio, simultâneamente com o direito individual à inviolabilidade da vida.

Retirado do livro A vocação actual da sociologia de Georges Gurvitch, publicado pelas Ediçoes Cosmos na sua colecção coordenadas, com a direcção de Vitorino Magalhães Godinho

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